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Presa no olho do furacão

Adriana van den Broek

 

Todo mundo só fala na tal tempestade de neve que parou a Holanda. Uns ficaram horas nos engarrafamentos, outros tiveram que cancelar os planos de sexta-feira à noite, e eu? Eu estava no pior lugar para se estar: a estação de trem de Utrecht. Dê uma olhadinha aí nessa foto! Quer tentar me achar?

Meu calvário começou no aeroporto de Bristol, Reino Unido, quando meu vôo foi cancelado e fui levada para Heathrow, nos arredores de Londres. Segundo a KLM o problema eram os ventos, e com uma aeronave maior conseguiríamos pousar sem problemas. Seis horas mais tarde, o tal vôo foi cancelado também, acabei sendo encaixada num vôo da British Airways, que estava voando com um 747 grandão, e cheguei em Schiphol lá pelas 18:30. Não nevava, e eu tão cansada, nem notei que todos os trens estavam com atrasos, trens para a Alemanha cancelados, trens para a Belgica desviados, só fui perceber quando fui perguntar porque meu trem não tinha dado as caras. Era gente que não acabava mais na fila de informações. Me mandaram pegar um trem para Utrecht com troca em Duivendrecht. Ainda perguntei: está saindo trens de lá? A resposta: a gente não sabe, mas é sua melhor chance de ir para casa hoje.

Fui ao balcão do Schiphol Taxi, todas as vans estavam presas no trânsito e a mocinha olhou para a minha cara como se eu fosse de outro planeta e respondeu indignada: senhora, temos mais de 650 quilômetros de engarrafamentos! Eu pensei que a mocinha estava louca, afinal, acho que a Holanda, de ponta-a-ponta, não chega a ter 650 quilômetros! Ainda incrédula fui ao balcão da Hertz para alugar um carro: temos ordem de não liberar nenhum veículo hoje, por causa do congestionamento-monstro. Foi aí que comecei a desconfiar que eu estava mesmo numa fria!

Peguei então um trem qualquer para Duivendrecht, perto de Amsterdam. De lá, um trem local para Utrecht, e foi aí que o negócio desandou. Não chegavam nem saíam trens de Utrecht. O quadro de chegadas estava totalmente apagado, e o hall da estação parecia gramado do Morumbi em dia de show, um grudadinho no outro. Pelo alto-falante, a voz dizia que por causa de "diversos acidentes" não chegavam e nem saíam trens, que conforme os trens fossem confirmados eles iriam informar pelo alto-falante.

É aí que eu me pergunto: cadê a organização, custa muito ligar pro escritório de Amsterdam e perguntar, e aí, saiu o trem tal? Me mandaram pra Utrecht por falta de informação, horas bolas, qualquer pessoa pode ligar pra um amigo na estação de Amsterdam e perguntar se o trem tal acabou de sair ou foi cancelado, porque os próprios funcionários da NS (Rede ferroviária Holandesa) não podem? Isso sem falar que não nos informavam nada. Por exemplo: eu estava indo para Eindhoven, e o trem não passava porque haviam árvores caídas nos trilhos. Os trens não iam para Arnhem e Nijmegem porque não havia tensão elétrica naquela região. Pôxa, que informassem a gravidade do problema para que cada um decidisse se iria esperar ou ligar para algum amigo na região e pedir abrigo, se iria para um hotel...

Nessa hora eu não sei se admiro ou se critico a holandesada. A maioria, sabendo que não adiantava se descabelar, sentou e esperou. Grupinhos se formaram, adolescentes se conheceram e trocaram números de telefones... Sofreram os velhinhos que não tinham onde sentar, os fumantes que não podiam fumar, os alérgicos a cigarro porque os fumantes fumaram mesmo sendo proibido, e principalmente os estrangeiros, que ouviam os zilhões de anúncios nos alto-falantes todos em holandês. A certa altura, ofereceram café de graça no "Kiosk", uns fizeram a festa, já que temos que esperar nem que seja com café de graça, outros ( como eu ) resmungavam que não queriam café, queriam é ir para casa!

Em meio a essa bagunça toda, tentei achar um hotel. Peço ao meu marido para procurar via internet, e tem que ser bem próximo à estação pois não há ônibus, nem táxis, terei que andar. Nada feito, está tudo lotado. Começavam então a anunciar alguns trens. Nijmegen, Den Helder, e pro Sul, nada? Uma amiga me liga e diz que perto de Breda tem mais de 30 cm de neve no chão. Espero mais. Lá pelas onze da noite chega o primeiro trem para Eindhoven. Corremos todos feitos uns loucos, claro que os vagões estavam lotados. Ouço o holandês ao meu lado dizer que é só meia horinha... O trem faz a viagem toda super devagar, e pára em todas as estações, não somente nas principais. A viagem que deveria demorar 45 minutos leva duas horas. Sentamos todos no chão do trem, quem não estava cansado, afinal era mais de meia-noite!

Cheguei em casa morta, mas cheguei. Agora me pergunto, como pode um país desenvolvido, um país "Das Zuropa", não ter um plano B? O que acontece se houver um atentado terrorista? E se houver uma guerra química? Se uma simples nevasca de 2 horas fez este estrago todo, o que acontecerá neste inverno que promete ser o mais frio dos últimos tempos?

 

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