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Jota Alves fundou o jornal The Brasilians, o Centro de Promoções Brasileiras e criou o Dia do Brasil em Nova York: o maior festival brasileiro no mundo. Formou-se em Moscou. Foi Secretário de Governo em Mato Grosso.

 

Cartas do Brasil
De Jota Alves

 

É fogo, é um resto de toco, é o fim do caminho

 

Chegar a minha querida Cuiabá afogada em fumaça, irreconhecível, transtornada, chamuscada, doente com a umidade do ar de deserto me deu uma tristeza profunda. A sensação é de abandono, de solidão. È como se eu nunca tivesse vivido aqui. Voltar às nossas referências e não encontra-las é desolador. Sinto que a cidade não me pertence mais.

Do avião, parecia que íamos chegar a uma cidade recém bombardeada. Fogo e fumaça, por todos os lados. O parque nacional de Chapada dos Guimarães sendo consumido pelas chamas, persistentes e cada vez mais invasoras. Ventava muito. O parque leva o nome de Chapada dos Guimarães, mas setenta por cento de sua área fica no município de Cuiabá.

Sair do aeroporto internacional Marechal Rondon e não poder ver os edifícios, as igrejas, as mangueiras e as palmeiras da Cidade Verde é desalentador. Uma sensação de perda real.

Já passei por tempestades de areia, já atravessei nevascas e senti a fúria de ciclones e furacões, mas ver e sentir Cuiabá coberta, asfixiada, escondida e intoxicada pela fumaça e os resíduos dos milhares de focos de queimadas, dentro e fora do seu perímetro urbano, é repugnante. È choro e raiva.

Ter que passar por isso em Cuiabá onde vivi a minha infância, estudei e aprendi nos movimentos estudantis, populares e políticos é um retrocesso em minha vida. E logo eu que hastiei a bandeira de Mato Grosso em importantes centros mundiais.

E que despertava uma inveja sadia em amigos por ter deixado Nova York e ir morar na serrana, pequena e bucólica Chapada dos Guimarães, berço de águas de bacias fluviais e como o pantanal, patrimônio da humanidade.

Falo de Cuiabá, capital de Mato Grosso, como posso falar e descrever as barbaridades da devastação e da destruição ambiental em Rondônia, Maranhão, Goiás, Tocantins e no Pará, neste ano, o campeão, mais uma vez, de focos de queimadas. A Amazônia está em chamas.

Os eco-delinquentes, os protegidos dos governos, os políticos que fizeram e fazem carreiras e dinheiro graças aos malefícios da destruição ambiental, os desmatadores e incendiários profissionais-escória da fortuna da degradação-começam a ficar aliviados. Trocam telefonemas, e-mail, sorrisos, pois, a chuva chegou.

Aqui a chamamos de chuva do caju. Atrasada (costumava cair nos primeiros dias de agosto) mas sempre bem vinda e esperada a renovar desejos e esperanças e com ela o despertar tardio de uma primavera cinzenta, àcida, virótica.

A chuva cai, apaga o fogo, tudo volta ao normal para um povo sem memória, passivo, glaucomizado por vários tipos de fumaça, empanzinado de latinhas por canções de falsos sertanejos, muitos dos quais, depredadores, queimadores, desmatadores, eco-delinquentes festivos.

As águas das chuvas lavam e levam tudo. Honra, dignidade, vergonha.
Lavou ta novo. E no ano que vem estaremos noticiando e ouvindo que a chuva não cai, o calor está muito forte, a temperatura sobe, o número de queimadas aumenta, os hospitais estão cheios de crianças com problemas respiratórios, vítimas de nossa asma moral, da corrupção e da destruição.

Nesse clima, chuva passa a ser mais que uma noticia do Tempo (do weather report). È o furo, a grande novidade. The news. Dádiva. Milagre.
O Brasil está em chamas, e por isso, e por causa disso, é preciso ir além da noticia. Não dá mais para apenas noticiar, informar, comunicar, transmitir.

Serviço de alto falante não existe mais. O país está carente de jornalismo investigativo e mais que formar opinião é preciso formar caráter. Hoje, mais que nunca, a imprensa pode ser sim o quarto poder da República.

Dos três poderes: Legislativo, Judiciário e Executivo a qual recorrer no caso das queimadas previstas, financiadas, programadas? A quem pedir socorro e providências, aplicação de leis, punições, caça aos incendiários, aos criminosos ambientais?

Qual dos Big Brother: legislativo, executivo, judiciário pode dar uma resposta imediata, emergencial ou duradoura a esse tsunami de fogo e destruição?

Neste momento nacional de tantas queimadas políticas no Senado, na Câmara Federal, no Planalto, nos Ministérios, no Judiciário, por toda parte, a imprensa ou mais precisamente, alguns jornalistas, radialistas, comunicadores, artistas, humoristas, podem sim, fazer a diferença.

Temos que usar todos os meios ao nosso alcance para chegar ao povo, temos que acordá-lo dessa intoxicação política, despertá-lo do marasmo e da passividade, convidá-lo a sair dessa corrida coletiva, sonâmbula, em direção ao eco-suicídio.

Considerando que as ações, de fora pra dentro do nosso país sempre tiveram repercussão, influencia e muita força, os brasileiros, no exterior, precisam usar as vantagens tecnológicas da comunicação moderna e encher o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal, o Palácio do Planalto, os governos estaduais e as prefeituras de e-mail, fax, cartas e milhares de mensagens contra a destruição sistemática, organizada e criminosa da Amazônia, da qual Mato Grosso e a minha querida Cuiabá fazem parte.

19/set/2007

 

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