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Jota Alves fundou o jornal The Brasilians, o Centro de Promoções Brasileiras e criou o Dia do Brasil em Nova York: o maior festival brasileiro no mundo. Formou-se em Moscou. Foi Secretário de Governo em Mato Grosso.

 

Cartas do Brasil
De Jota Alves

 

Tropa de elite

 

De tempo em tempo, ou de décadas, um filme brasileiro provoca zum-zum-zum, discussão. Assim foi com o Pagador de Promessas. Grupos católicos censuravam o filme e queriam que o governo proibisse sua exibição.

O nosso Cinema é uma daquelas atividades culturais que poderia ter dado certo, mas não deu. De fases e re-tomadas não contribui para a educação e a inteligência do povo. Foi substituído pela telenovela.

Getúlio Vargas foi o único presidente que captou a força e a magia do Cinema como arma de propaganda política, com instrumento de poder, como produto de exportação. Devemos a ele o Cine-Teatro nas capitais e nas nossas principais cidades. Deixou sua marca: um cine-teatro, um hospital e um colégio, entre outras importantes realizações.

Infelizmente, pelo país todo, belos edifícios com salas de cinema majestosas foram derrubados, fechados, substituídos. O Cine-Teatro da minha Cuiabá, uma construção sólida, está fechado a mais de vinte anos. A minha formação cultural se deu, de fato, pelos filmes, peças teatrais e shows dos grandes nomes da música popular brasileira, atrações naquele espaço memorável. O cinema foi o melhor dos meus Big Brothers.

Se, cada um dos catorze presidentes depois de Getúlio Vargas tivesse, de sua cota intelectual pessoal, construído um cinema por ano de mandato, teria sido dada a largada para a consolidação da Sétima Arte no país.

Se, cada governador tivesse a lucidez de construir cinemas, quantos atores, atrizes, diretores, screen writers, técnicos, teríamos pelo Brasil afora?

Se, cada prefeito colocasse em seu plano de governo municipal a construção de um cine-teatro, estaríamos educando e revelando muitos e muitos talentos. Estaríamos abrindo oportunidades culturais.

Sem água boa, não se faz cerveja que preste. Sem cinemas, não se consolida a cinematografia, a profissão, o business. O circulo vicioso permanece: produzimos poucos filmes porque não temos salas de cinema suficientes. Como temos salas insuficientes, produzimos menos filmes.

Cinema é arte, é cultura, é educação, é informação. Mas, deve ser tratado e conduzido como empresa, com indústria, como profissão. No Brasil, as muitas fases do Cinema-pornô chanchadas, cinema de protesto social, do cinema novo para a sátira política, o erotismo barato, o escracho e a sacanagem - foram subvencionadas pelo governo e administradas artesanalmente por “empresários”, diretores e artistas ideologicamente confusos. Não poderia dar certo.

No lugar do screen writer, uma profissão de escritor, tradutor, criador e adaptador para filmes surgiram os “dramaturgos” de novelas. Assim como nos Estados Unidos os musicais da Broadway são mais populares que as óperas, no Brasil, as novelas da Globo, substituíram o filme, o cinema.

Mas, ir ao cinema é um caminho, um ato, um comportamento, uma decisão da maior importância para a convivência social, o respeito mútuo, a solidariedade comunitária. A novela e o DVD em casa, não substituem o “vou ao cinema”. Ninguém vai ao mar. Ir à praia é um ato de cultura.

Nos Estados Unidos, dos avanços tecnológicos, dos seriados, das novelas, do moderníssimo eletro-doméstico, o Cinema continua sendo o Big Teacher da educação, da cultura, do comportamento, da riqueza e da fama.

Dos “produtos” da cultura brasileira o Futebol deu certo, profissionalizou-se graças às importações de craques pela Itália, à Lei Pelé, às vitórias da nossa seleção e o milionário futebol da Espanha. O Carnaval, mesmo desfigurando-se, continua uma atração mundial,com vida e marca do nosso povo. O Cinema, entretanto, não deslanchou. Não é um produto popular.

De vez em quando aparece uma bilheteria de 700 mil pessoas como a da Tropa de Elite, um filme B, para os padrões norte-americanos. Há sucessos como Dona Flor e seus dois maridos, Gabriela, Cravo e Canela, Dama do Lotação, Os filhos de Francisco, Cidade de Deus, Ônibus 174. Mas, não há regularidade na produção e no sucesso. O Cinema vive de ups and downs.

Vivemos de espasmos cinematográficos e de “loucos por cinema” como Glauber Rocha, Neville de Almeida, Arnaldo Jabor, a família Barreto e muitos outros que “fazem cinema” no interior do Brasil.

As posturas mentais dos nossos dirigentes políticos mais a pobreza cultural que tomou conta do país inviabilizaram a mais dinâmica e a mais espetacular forma de entretenimento e lazer dos tempos modernos. Indústria de sonho, de sucesso, de glória e de poder. De conquista e domínio. De educação e cultura.

O Cinema brasileiro é mais uma daquelas oportunidades e possibilidades perdidas pelo nosso povo para se educar e se aprimorar. É aquilo que poderia ter sido. Mas não foi.

 

19/10/2007

 

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