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Jota Alves fundou o jornal The Brasilians, o Centro de Promoções Brasileiras e criou o Dia do Brasil em Nova York: o maior festival brasileiro no mundo. Formou-se em Moscou. Foi Secretário de Governo em Mato Grosso.

 

Cartas do Brasil
por Jota Alves


A imagem do brasileiro no exterior

 

No Brasil, as diferenças sociais, geográficas, climáticas, fonéticas, caracterizam a nossa gente. Num país continente vivem ricos e pobres. Diferenciamos-nos pelo que temos e não pelo que somos. É no exterior, ao sermos comparados com outros povos, que afloram nossas virtudes, defeitos, valores, vícios.

Nova York, por exemplo, é uma cidade de cantões e áreas de estrangeiros, bem definidas. Entre gregos, alemães, italianos, irlandeses, coreanos, brasileiros se estabeleceram e passaram ao status de comunidade. Mas, nessa babel o que somos? Como nos analisam? Que imagem passamos? O que nos diferencia dos demais povos?

Durante meio século, graças à nossa música popular e ao futebol, passamos ao mundo a imagem de povo alegre, brincalhão, de vibrante musicalidade, sensual. Povo de paz e amor. Cordial. Nos tempos negros da ditadura militar, do ame-o ou deixe-o, o brasileiro recebia aplausos e por todos os lugares era sempre bem-vindo. Notícias policiais envolvendo brasileiros no exterior, uma raridade, um espanto, uma grande exceção. Não mais.

Há uma crescente onda negativa em cima da imagem do brasileiro. As más notícias se avolumam na Europa, nos Estados Unidos, no Japão. E não adianta culparmos a “laranja podre” que estraga o laranjal ou a safra. Quando uma imagem é montada, produzida, fabricada, de brincadeira ou não, com maldade ou não, é difícil fugir dela. E se colar, fica para sempre. Nem todo mexicano é pachorrento, sonolento, mas aquela imagem do Pancho de sombreiro, fazendo a sesta, ficou para sempre no imaginário popular. Culpa do cinema norte-americano? Talvez. Conheci centenas de colombianos que nunca tocaram num papelote de cocaína, que são visceralmente contra o tráfico de drogas, mas o colombiano de Queens, Long Island e de outras áreas da grande Nova York é visto como um possível traficante. Aviões e passageiros que chegam da Colômbia são minuciosamente vistoriados. Há um carimbo na imagem do colombiano.

Fechemos os olhos e imaginemos o que caracteriza o japonês: homem e mulher de pequena estatura craques em eletrônica, em chips, na arte de fabricar pequenos e bons aparelhos e instrumentos. O irlandês ficou com a fama de maior beberrão dos Estados Unidos. O italiano de mafioso. O alemão de bom mecânico. O francês de arrogante.

Gostemos ou não, choremos ou não, mas na Espanha e em Portugal a imagem do brasileiro é a pior possível (exceção é claro dos nossos craques de futebol). Vale lembrar que são dois países com arraigadas crenças e de um conservadorismo religioso milenar. Os ditadores, Franco e Salazar, deixaram heranças políticas, sociais, comportamentais que moldaram um tipo de espanhol e português atrasado, preconceituoso. Foi na Espanha e em Portugal onde a Inquisição, a queima de homens e mulheres “hereges”, mais duraram. O que mais incomoda não é o brasileiro ocupar empregos, competir com os locais, ganhar e mandar dinheiro para o Brasil. È o comportamento despojado, leve, diferente, de brasileiros e brasileiras. Há mais venezuelanas, salvadorenhas, argentinas, mexicanas, vivendo de prostituição na Espanha que brasileiras. Mas, a bola da vez é a brasileira. Ainda não é um carimbo definitivo. É uma tatuagem que pode ser removida.

O escândalo sexual do ex-governador de Nova York deu mais Ibope a essa imagem negativa. O pior, entretanto, para a imagem do brasileiro, entre as outras comunidades, foi a capixaba Andréia ter feito o papel de dedo-duro, traído a confiança de suas companheiras de trabalho, delatado clientes. Isso é ruim. A pecha, a fama de dedo-duro, de traidor, é péssima e pode se alastrar criando uma terrível imagem do brasileiro (a) não confiável, perigoso, gente de duas caras, vendilhão. No exterior não há João, José, Maria. O consenso é o de sermos identificados por nossas atividades e nossos comportamentos. Somos: The Brazilian businessman, Brazilian women, los brasileños. Nos meus anos universitários fui chamado de Brazil e chamava colegas de Argentino, Chileno, Cubano. Na super competitiva Nova York tivemos a audácia arrogante de fixar a imagem de Mister Brazil.

É a quantidade ou a qualidade da imigração brasileira que provocou essa mudança brusca e negativa na nossa imagem no exterior? Durante séculos as imigrações acontecem por causa da fome, da procura por espaço e do desemprego. A fome obrigou irlandeses a ir para os Estados Unidos. Japoneses foram para o Brasil à procura de terra. Milhares de espanhóis, portugueses, russos, alemães, italianos, encontram abrigo no nosso país. Fugiam de ditaduras e de regimes políticos em seus países. Milhares de pessoas do ex-bloco soviético buscam novas oportunidades na Europa unificada. Africanos fogem da fome e da miséria

Não é o brasileiro faminto, miserável, que está emigrando. As viagens legais ou ilegais custam caro. Brasileiras desdentadas não sobrevivem e não fazem sucesso entre prostitutas espanholas, portuguesas, inglesas, húngaras, polacas. Temos muita terra e espaço. Faltam sim, oportunidades, motivação, confiança no presente e no futuro. Há, sobretudo, muita decepção com nossos governantes, com a nossa Justiça, com as nossas instituições. Vivemos na democracia do celular, da internet, do ir e vir, mas sufocados, explorados e manipulados pela ditadura midiática a serviço de grupos e de políticos que ditam as regras. Milhares de cidades brasileiras moral, social e economicamente sucatadas. Nosso capitalismo ainda é primitivo, selvagem, canibalesco.

O Presidente que prometia mudanças, não mudou nada. A dentadura e a botina que compravam votos foram substituídas por doações e outros regalos assistencialistas. As elites criticadas são aliadas do poder central, e com muito mais força. A escória toma conta das grandes cidades, da Amazônia. Culturalmente, estamos engasgados, intoxicados. O contato globalizado com outras realidades, outros mundos, faz jovens, profissionais liberais e trabalhadores braçais desejarem novos ares, enfrentarem desafios, melhorarem de vida com viagens temporárias ou duradouras. Temos e teremos bons e maus imigrantes brasileiros.

Assim que o esforço tem que ser permanente e de todos os que trabalham com comunicação brasileira nos Estados Unidos, na Europa, e outras regiões, em prol da melhoria da nossa imagem. A imprensa no Brasil não tem ajudado. Continua preconceituosa em relação aos brasileiros que vivem no exterior. As noticias e as reportagens sempre em tons pejorativos, gozadores. Cores de desdém e gosto de inveja. Não há uma Política de governo, especificamente voltada para o imigrante, esse mesmo que manda algo em torno de 2 a 3 bilhões de dólares anuais para o nosso país.

Criar e manter imagem positiva nunca foi uma tarefa fácil, por isso mesmo um grande desafio. No exterior, entre muitas comunidades de imigrantes, a imagem é fundamental para o sucesso de todos os brasileiros.

09/04//2008

 

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