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Denise Parma é piaiuense, atualmente mora em Purmerend e representante da REBRA(Rede Brasileira de Escritoras) na Holanda. Gosta de livros, poesia e pintura. Escreve histórias infantis. Obra Publicada: O Desafio de Aileen, infanto-juvenil, Editora Scortecci, São Paulo,2004. 


Não há futuro

Denise Parma

 
12 de setembro de 2001.

Pausa. Estávamos na cantina da escola, eu e os meus colegas do curso de holandês.  Alunos de outras salas juntaram-se logo a nós. O diretor da escola, aproveitando a oportunidade, convocou-nos a fazer um minuto de silêncio em prol das vítimas do atentado terrorista nos Estados Unidos ocorrido no dia anterior.

            À minha mesa encontravam-se alguns dos meus colegas, inclusive um iraquiano e uma turca, casada com um iraniano. Lembro-me de que o iraquiano começou a sorrir ao olhar nossos rostos pesarosos. A colega turca murmurou entre dentes que não queria ficar de pé.

            A atitude deles revoltou-me. Senti o sangue latejar nas têmporas, sinal de tempestade aproximando-se. Porém, como a ocasião não era propícia a arrebatamentos, controlei o arroubo e  apenas sussurrei para a colega que estávamos num país livre e que a mesma tinha toda a liberdade de permanecer sentada, caso quissesse.

            As imagens do atentado repetiam-se na televisão. Imagens chocantes. Entre elas, a que mais me chamava a atenção  era a dos bombeiros atirando-se prédio abaixo, entregando-se à morte de maneira mais rápida e menos dolorosa. A impotência daquelas vítimas, acenando das janelas, pedindo por um socorro impossível de ser prestado, os últimos telefonemas para os familiares, povoaram minhas noites por algum tempo.

            Ao confrontar-me com essas imagens e a lembrança do sorriso cínico do iraquiano apoderava-se de mim revolta e desejos de vingança. Passei a olhar meus colegas muçulmanos com olhos de desconfiança e racismo. Via em cada um deles um terrorista que não perderia a oportunidade de cortar-me o pescoço em nome de Alá. Tornei-me pró Israel, pró América, pró Leste.  
 
         Passados alguns anos, minha vida deu uma virada de noventa graus e a questão Israel-Palestina- Estados Unidos-resto do mundo era o que menos me preocupava. Nesse período, convivi com outros mulçumanos e aprendi a separar o joio do trigo. Apesar de quase todo terrorista ser um muçulmano isto não significa que todo muçulmano é um terrorista.
 
21 de julho 2006. 6.45 h

        Ligo a televisão e as notícias dão-me conta de mais um dia de bombardamentos efetuados por Israel sobre o Líbano. "Não há futuro enquanto existirem Israel e os Estados Unidos", diz uma libanesa entrevistada, jamais imaginando encontrarem suas palavras eco em meus ouvidos.

       A esperança dela talvez tenha se perdido para sempre,   juntamente com a casinha construída a duras penas, enquanto sonhava com o futuro, o qual apresentava-se com promessas de paz num país que já fora devastado por uma guerra.
 
      Caso eu tivesse assistido essa reportagem em 2001, talvez não tivesse entendido a revolta e a desesperança dessa libanesa. Talvez até exultasse ao ver seu sofrimento. Quem sabe aplaudiria a ação de Israel. Porém, o tempo, educador de espíritos fracos, ensinou-me a olhar a vítima da guerra de outra maneira. É a vida de uma criança americana mais valiosa que a de uma criança libanesa? A dor da mãe americana que perdeu o filho na guerra do Iraque é mais sentida que a dor de uma mãe palestina ao ver o filho desaparecer numa explosão de uma bomba israelita?
 
     Os homens que causam a guerra não são os homens que apertam o gatilho no front de batalha. Estes são fantoches nas mãos dos poderosos, escondidos atrás de bureaus e montanhas de interesses particulares, como o da indústria bélica e a do petróleo.
 
   

© Denise Parma 2006

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