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Denise Parma
é piaiuense, atualmente mora em Purmerend e representante da REBRA(Rede Brasileira de Escritoras) na Holanda. Gosta de livros, poesia e pintura. Escreve histórias infantis. Obra Publicada: O Desafio de Aileen, infanto-juvenil, Editora Scortecci, São Paulo,2004.
 



Ele é muito bom

Denise Parma

 

Tinha ainda alguns minutos antes do horário marcado com minha consulente no CWI (Centro voor Werk en Inkomen). A recepcionista convidou-me a sentar e a tomar alguma coisa: um café, um chá, uma água... Sentei-me e me pus a folhear uma revista desinteressadamente. Vez ou outra, lançava um olhar em direção à porta, à medida que alguém entrava.

Entre as pessoas que entraram um casal me chamou a atenção: Ela, estrangeira, de origem asiática; ele, holandês. Os dois se encaminharam para a recepção e ele se encarregou de explicar à recepcionista o motivo que os levara até ali. Depois dirigiram-se imediatamente para os murais onde ficam expostas as ficham com as vagas de emprego disponívéis na região.

Ele explicava para ela, em inglês, o que lia nas fichas. Vez por outra, ela perguntava alguma coisa que ele respondia atenciosamente. Os dois gastaram alguns minutos verificando as fichas que eram do interesse dela. Como pareceram não chegar à nenhuma conclusão satisfatória, vieram sentar ao meu lado. Dizem que tenho a mania de ver "coisas demais", mas, quando o olhar dela cruzou ligeiramente com o meu, havia um certo acanhamento, eu diria até mesmo, vergonha neles. Por que? Seria por mostrar-se assim, dependente do marido para desempenhar tarefa tão simples, como apresentar-se numa recepção? Pelo desconhecimento das normas e do idioma que a colocava numa posição aparentemente inferior aos demais estrangeiros ali presentes?

A cena é comum e identificável com todo estrageiro recém-chegado na Holanda. O(A) amado(a) se responsabiliza em ensinar o caminho das repartições públicas como o CWI, o gemeente (prefeitura), a escola, médico, dentista, farmácia, supermercado, etc. A maioria das mulheres, principalmente as vindas de uma cultura na qual o machismo impera, vêem a dedicação do amado como um presente caído do céu. O meu "ex" também me mostrou o caminho de todas as repartições públicas e de muitas outras coisas na Holanda. Mas, desde o começo, fui forçada a ser "zelfstandig". Graças a Deus! A agenda de trabalho dele obrigava-o às vezes sair de casa às cinco da manhã e voltar às dez da noite. Havia tempo pra levar mulher pra cima e pra baixo? Muitas conhecidas, porém, viam isto como uma falta de sorte minha. Ouvi muitas vezes de algumas brasileiras a expressão: "Ele é muito bom pra mim, resolve tudo pra mim." Algumas diziam isso com um tom no qual escondia-se a pergunta: O quê? O seu não faz isso com você?

A dificuldade com a língua, obriga muitas mulheres a serem dependente mesmo dos maridos. O medo, o comodismo são outros fatores que influenciam o comportamento passivo e dependente de muitas mulheres.
O homem holandês é super-companheiro. Não há nada de errado alguém ir com o marido resolver problemas simples, como ir ao médico por exemplo. Mas, até mesmo aí, há algumas armadilhas que muitas mulheres só reconhecem bem tarde, pois esta super-proteção de alguns homens, pode funcionar a longo prazo como uma maneira de tornar a mulher dependente, desinformada e isolada da vida pública holandesa. Já ouvi vários relatos de mulheres estrangeiras que perderam o marido de repente e não sabiam sequer como providenciar o enterro. Muitas herdaram contas astronômicas, perderam os filhos, por não serem conscientes de seus direitos.

A vida dá muitas voltas e numa destas tive que ser ainda mais "independente", tive que me virar mesmo, providenciar moradia, emprego, uma papelada em várias repartições públicas. Se encontrei dificuldades? Claro que sim! Mas, a maioria das coisas que tinham que serem resolvidas, foram resolvidas sem que eu tivesse de pedir ajuda a alguém. Coisas simples como preencher o formulário do imposto de renda, por exemplo, deixaram de ser uma coisa do outro mundo.
Você é quem decide o tipo de relacionamento que quer ter com seu marido. Mas, não deixe que o comodismo de hoje seja a causa de problemas no amanhã.

© Denise Parma 2007

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