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Entrevista

 

GOMES – O GRANDE GOLEIRO


                                                                        Por Margô Dalla


Com inúmeros títulos em sua carreira, Gomes em sua quarta temporada no campeonato Holandês está em sua melhor forma e com uma atuação brilhante nos últimos jogos, firmando assim sua posição no futebol internacional como um dos maiores craques da atualidade.

Ídolo no Brasil e também na Europa, mantém a disciplina e a simplicidade do início da carreira em João Pinheiro, pequena cidade de Minas Gerais.  Lá, aos catorze anos o jovem de nome Heurelho da Silva Gomes dá o “ponta pé” em sua ascendente carreira como centroavante. Muito alto(1,91 m), mais alto que os colegas da mesma idade,sempre sedestacou e fez da bola sua companheira constante nas brincadeiras de criança. A infância humilde impulsionou o atleta a não desanimar e acreditar que seus sonhos poderiam se tornar realidade.

Sempre determinado a vencer, seguiu em frente com garra e otimismo indo para Sete Lagoas – também em Minas Gerais, para integrar um torneio de futebol de areia. Como a única posição disponível era a de goleiro, foi inscrito como tal e então, aos 17 anos, a sua primeira grande vitória: foi escolhido o melhor do torneio. Daí para o “Cruzeiro”- um dos mais importantes times mineiros foi um pulo. Durante um ano, esteve na escolinha do clube onde teve a oportunidade e condições de aprimorar sua técnica na posição de goleiro. Durante o Estadual de Minas Gerais, defendeu o Democrata de Sete Lagoas na categoria juvenil e depois na Terceira Divisão. Esteve também no CRB de Alagoas e no Guarani de São Paulo durante pouco tempo e em 2000, o jogador já estava na Toca da Raposa, o centro de treinamento do Cruzeiro Esporte Clube na cidade de Belo Horizonte, um dos mais importantes do Brasil e que já abrigou a seleção brasileira por inúmeras vezes.

Em 2002, na Copa São Paulo de Juniores, reserva do Cruzeiro, mostrou sua técnica e desempenho durante os treinamentos e jogos que participou, conquistando assim seu lugar na equipe profissional. Na época o técnico era Wanderlei Luxemburgo que acreditou no goleiro e o colocou na posição de titular. Após alguns jogos, um problema inesperado no menisco o deixou sem jogar alguns dias, mas o técnico confiou e o reconduziu à posição de primeiro goleiro.

O HOMEM ELÁSTICO

Título dado pelo locutor da Rádio Itatiaia, Alberto Rodrigues, em 2003 - uma alusão ao desempenho de Gomes que pode esticar seu corpo até incríveis comprimentos tomando conta de toda a área do gol.

Sobre este título, Gomes diz o seguinte: ”Essa elasticidade é do meu físico mesmo. Claro que com o treinamento a gente vai aprimorando para chegar bem nas bolas. Eu digo que o goleiro tem que pegar as bolas indefensáveis, porque as fáceis, já são fáceis, exigindo apenas concentração e isto eu já tenho. Hoje se exige muito que o goleiro seja alto," finalizou.

Neste mesmo ano, muitas realizações e resultados positivos. Com a equipe do Cruzeiro conquistou vários títulos como campeão estadual, campeão brasileiro e da Copa do Brasil. A brilhante atuação resultou em sua convocação para usar a camisa da Seleção Brasileira durante o Pré-Olímpico do Chile, no início de 2004 e com isso cresceu o interesse, ao jogador, de agremiações internacionais como o PSV Eindhoven – time da Philips na Holanda. Mas naquela época, as negociações não foram em frente.

Neste mesmo ano, defendendo o Cruzeiro na Copa Libertadores da América, sofreu uma preocupante fratura no osso da mão direita. Críticos de futebol teciam os mais diferentes comentários sobre o fato, mas o atleta se recuperou em dois meses e o Cruzeiro negociou seus direitos com o PSV para a temporada européia 2004/2005.

Os primeiros meses na Holanda não foram fáceis, mas em curto prazo com seu talento e disciplina, Gomes conquistou o respeito e a confiança dos torcedores do PSV, dos times concorrentes, e dos Holandeses. Hoje é um dos nomes mais importantes do futebol profissional Europeu e um dos goleiros com maiores recordes e títulos conquistados.
Estamos aqui, contando a história deste “Grande” atleta que muito nos orgulha cujo maior sonho é jogar pelo Brasil durante a Copa do Mundo. Vá em frente, Heurelho da Silva Gomes! Nós aqui do “Brasileiros na Holanda” estaremos na torcida por você e pelo nosso país.

Este é um importante momento na carreira de Gomes – “O Grande” e gostaríamos de oferecer aos leitores do site “Brasileiros na Holanda” um pouco de sua história e trajetória de vida.

BH – O futebol sempre foi o seu maior sonho? Como foi o início da carreira? Tinha algum time de sua predileção?
G- Sempre, desde criança. No interior não tínhamos aquele contato com a bola. Até para termos uma bola para treinar, jogar ou brincar era difícil. Diferente de hoje que a maioria das crianças tem esse acesso, mesmo que seja uma bolinha toda arrebentada, mas ta lá para jogar; mas sempre foi meu sonho poder jogar futebol.

Aos 7 anos de idade, comecei a acompanhar o Cruzeiro que é  meu time do coração assistindo a jogos na televisão de vizinhos e fui ganhando aquele gosto e  tendo acesso ao futebol e a partir daí veio aquela vontade de um dia chegar a um clube grande e isso aconteceu quando me transferi para o Cruzeiro.

BH – Como a sua família reagiu a essa sua determinação?
G- A minha família sempre foi de bons atletas, nenhum deles foi profissional, mas sempre encantavam as pessoas da região, mas ninguém nunca me incentivou tanto, mas sempre que precisei, eles me deram todo o apoio necessário.

BH – No início da carreira tinha algum treinamento, ou era uma coisa intuitiva, de ver outros jogadores em atuação?
G – No início sim, mas depois eu mudei para Sete Lagoas, uma cidade mais avançada e tive a possibilidade de aprender muita coisa diferente, mas antes de me transferir para o Cruzeiro eu nunca tive nenhuma rotina. Hoje, eu treino às 9 horas da manhã, treino à tarde e aos fins de semana tem jogo. Quando jogamos futebol amador não tem nada disso, não tem nenhuma espécie de treinamento então, jogávamos por gostar e com a vontade de um dia chegar a um clube e ter todas estas facilidades, tudo organizadinho. Mas a gente ia muito mais pela força de vontade do que pela técnica.

BH - Como foi a adaptação do futebol brasileiro para o futebol holandês? Quais as principais diferenças?Foi difícil a adaptação?
G – Para mim, o goleiro não tem que deixar a bola entrar, então é a mesma responsabilidade e compromisso. Mas no meu caso, aqui se usa muito o goleiro e eles jogam muito e principalmente com os pés. O goleiro trabalha muito com os pés. A bola toda hora vem no goleiro e chega aos pés. No início, eu tive certa dificuldade, mas depois, com o tempo, eu fui olhando como se jogava, assistia aos jogos pela televisão e observava jogos de outros goleiros, da Liga daqui, da Liga da Europa e cheguei à conclusão que eu tinha que me acostumar e adaptar com esta nova maneira, e hoje me acostumei e estou perfeitamente adaptado e não tenho nenhum problema..

BH – Antes de você, algum outro goleiro brasileiro atuou no futebol holandês?
G – Não nunca. A Holanda sempre foi de bons goleiros. Tem tradição de bons goleiros, então, tínhamos poucas chances de vir para cá jogar; além do mais,  eles eram um pouco fechados e não admitiam jogadores nesta posição de outra nacionalidade. E por outro lado, somente há pouco tempo o Brasil começou a exportar bons goleiros. Foi a partir do Taffarel e do Dida que abriram as portas para os goleiros brasileiros e hoje, muitos países têm goleiros brasileiros e aqui também. Eu tive a felicidade de chegar e inaugurar, tanto que hoje, o PSV conta com o segundo goleiro também brasileiro que é o Cássio; então a gente fica feliz por ter aberto esta porta.

BH – Como é a rotina de um jogador do PSV?  Você treina todo dia? Como são os treinamentos?
G- Nós treinamos todos os dias. Geralmente temos uma folga por semana, e se temos um espaço maior, um intervalo maior de um jogo para outro, podemos ter até dois dias de folga, mas quando estamos em competição estas folgas são muito difíceis. Agora por exemplo, estamos disputando dois campeonatos; então tem jogo no meio da semana e aos finais de semana. Uma vez por dia a gente treina e antes de começar as competições – a pré-temporada, o treinamento é um pouco mais exigido, mas no dia a dia nosso, depois que  começam as competições, uma vez por dia.

BH – Não tem aquelas concentrações rígidas do Brasil?
G – Não, aqui não tem igual ao Brasil. Eu joguei com o Wanderlei Luxemburgo e era um treinador que concentrava bastante. Eu sempre falo que nós ficávamos  mais concentrados que “extrato de tomate”. Isto era verdade. A gente concentrava muito. Mas aqui não. A gente vai de 3 horas e meia a quatro horas antes do jogo, para a sede do clube, se encontra, faz algum lanche junto e depois cada um vai para o estádio em seu carro quando o jogo é em casa. Acho que vai muito da cabeça do jogador porque se ele sabe que tem um jogo amanhã, ele não pode de jeito nenhum, no dia anterior, extrapolar. Eu sou muito mais a favor desta mentalidade européia, desta liberdade, porque ficamos mais com a família e não preso em um hotel, o que é muito complicado.

BH – O treinamento tem algum equipamento especial diferente do Brasil?
G - É praticamente a mesma coisa. O Brasil está muito avançado com esta questão de goleiros, tem uma preparação muito boa. Eu acho que a nossa ferramenta fundamental, além da qualidade dos atletas é ter preparadores de goleiros de excelente nível. Então no Brasil, tem profissional à altura de atuar em qualquer agremiação, seja ela nacional ou interrnacional.

BH – Então tem um preparador só para goleiros?
G – Sim! É um profissional de suma importância em nossa carreira. Vestimos diferentes, somos os únicos que colocamos luvas e trabalhamos também com as mãos. A preparação é totalmente diferente. E é muito importante podermos  contar com um preparador de alto nível porque é ele que vai te  entender, que vai analisar os jogos junto com você e estar ao seu lado.

BH - Você já recebeu propostas de outras agremiações européias?
G- Sempre surgem boatos e propostas. Comigo mesmo, já surgiram boatos e propostas concretas. Mas eu assinei um novo contrato com o PSV até 2013. É um contrato longo, mais cinco anos e pouco em um país que me acolheu muito bem. Tenho uma relação muito boa dentro do clube e fora do clube com os torcedores.

BH – Você é um ídolo aqui?
G – Graças a Deus! É incrível a gente ter o reconhecimento dos torcedores. O futebol brasileiro sempre exportou jogadores que se tornaram ídolos. Aqui mesmo no PSV, o Romário e o Ronaldo já jogaram e foram ídolos; agora, um goleiro ser ídolo, e o respeito que eles têm por mim, é uma coisa inédita.

BH - Você se inspirou em alguém no início de sua carreira?
G – Eu tenho uma admiração muito grande, é meu amigo e hoje eu tenho o prazer de falar com ele. Antes eu só o via pela televisão, que é o Dida ex goleiro do Cruzeiro e do Coríntians e que hoje está no Milan na Itália. É um goleiro fantástico que junto com o Taffarel, ajudou a abrir as portas  aqui na Europa e é um cara que eu admiro muito.

BH – Você acha que está entre os cinco maiores goleiros do mundo?
G – Não sei se sou um dos cinco maiores do mundo, mas eu trabalho todo dia para que isto aconteça. Eu tenho uma coisa comigo ”que o hoje tem que ser sempre melhor que o ontem e que o amanhã têm que ser melhor que hoje”. Eu carrego isso sempre comigo. Não é porque eu estou bem que eu tenho que me acomodar. Não! O trabalho é sempre importante e temos que respeitar e admitir que nunca sabemos tudo. Isso é muito importante dentro da minha profissão.

BH - Você tem algum segredo para se posicionar nas cobranças de faltas?  Como você sabe para que lado a bola vai rolar? É intuição? É técnica?
G – É técnica, é concentração, porque da mesma forma que a bola está vindo ela pode desviar a um metro do gol. Hoje em dia existe esta técnica e isto complica. Você bate forte na bola e ela vem vindo e você tem que estar ali, olhando para a bola, completamente concentrado. Não posso nem piscar. Exige da gente enorme concentração. Porque se isso não acontece, é onde existem as falhas. Graças a Deus isto ocorre pouco comigo porque estou sempre muito atento e concentrado.

BH – Você assiste aos jogos depois?   
G – Sim, eu procuro sempre assistir para ver os lances e analisar o meu desempenho.

BH – No último jogo eu assisti você aplaudindo os torcedores no estádio. Foi um gesto bonito. É algum tipo de ritual?
G- É um reconhecimento porque durante o jogo todos os torcedores gritam o meu nome e me incentivam a dar o melhor de mim no campo. Então é uma forma de agradecer. É uma retribuição ao carinho que eles têm por mim. Sempre dou uma volta no campo. O respeito que eles têm por nós é fantástico. Independente se o club vai bem ou mal, eles reconhecem quando um jogador realmente joga e está preocupado com a equipe. E isto dá muita força para nós que estamos jogando.

BH - O que é indispensável em um atleta?
G – Disciplina, garra, horário, compromisso com seus objetivos e clube. Isto é essencial. Hoje no futebol não adianta ter só técnica. Já vi muitas pessoas com técnica perfeita, mas que não tem cabeça e ficam para trás. Hoje em dia, o compromisso que se tem com o que se faz, é muito mais importante que a técnica.

BH - Qual foi sua defesa mais bonita?     
G – Eu tenho um lance que foi contra o Milan na Liga dos Campeões, que é a principal competição da Europa, que foi quando o atacante do Milan tenta jogar a bola por cima de mim e eu estava praticamente batido no lance, isto é, não tinha mais chance, mas eu consegui voltar, ainda consegui dar o toque na bola e jogá-la para fora. Foi uma das defesas mais difíceis, não sei se a mais bonita, mas uma das mais difíceis. A que mais marcou.

BH - Em sua opinião qual o  melhor jogador e goleiro em atividade?
G – O maior jogador para mim na atualidade é o Kaká e o goleiro que eu mais admiro no momento é o holandês Edwin Van de Sar do Manchester.

BH – Como está a temporada de jogos na Europa?
G – Estamos terminando o campeonato. Estamos na frente. Trabalhamos muito e hoje temos este belíssimo resultado. Mas os jogos não param. Estamos jogando a  Copa da UEFA – uma competição de futebol de clubes Europeus, uma disputa entre clubes de outros países. Nós fazemos dia 03 de abril o primeiro jogo (são dois) contra o Fiorentina lá na Itália e depois dia 10 o jogo é aqui onde vamos tentar passar para a semi-final. Passando pela semi-final temos o sorteio para sabermos com qual  equipe jogaremos. Quando acabar a temporada, retornamos dia 14 de julho para começar a pré temporada; aí trabalhamos duro, praticamente o dia todo. Temos 6 semanas para preparar a nova temporada.

BH – Uma última pergunta dos torcedores Holandeses. Você vai defender a Holanda nos jogos? Como é esta questão do passaporte Holandês?
G – Se eu vou defender a Holanda eu não sei, não depende só de mim. Quanto ao passaporte, já estou aqui há quatro anos, mais um ano que eu ficar (05 anos),  eu naturalmente pego o passaporte porque é lei e eu já trabalho aqui. Mas o que acontece é que, eu já estou vendo que não tenho chances de disputar a Copa do Mundo de 2010 pelo Brasil e como eu me identifiquei muito com o país e com as pessoas, além do respeito com que todos me tratam, a imprensa e os torcedores principalmente, então eu citei a minha vontade de disputar uma copa do mundo pela Holanda. Infelizmente não depende só de mim porque eu já cheguei a jogar pelo Brasil, pela Seleção Brasileira, não em jogos oficiais mas em jogos amistosos, mas joguei. Há uma pequena possibilidade, uma pequena chance de isto vir a acontecer, de poder disputar uma Copa do Mundo pela Holanda, mas isto é uma burocracia que depende da FIFA, depende do povo holandês querer, depende do treinador da seleção Holandesa querer, enfim, não depende só de mim. Se dependesse só de mim, eu gostaria de vestir a camisa holandesa nos jogos.

BH – Obrigada, Gomes, nós do Brasileiros na Holanda agradecemos a atenção dispensada e desejamos sucesso em sua carreira. Estaremos acompanhando e torcendo com certeza, pelo seu desempenho.

 

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