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Clarissa Mattos
- Baiana de Salvador,  administradora de empresas e pós-graduada em Marketing e E-Business, nos  últimos anos tem atuado nas áreas de comunicação e marketing. Hoje mora em De Bilt e, além de música, cinema, literatura e fotografia, adora conhecer  novas pessoas, lugares e culturas.


 

Entrevista: Montserrat
“O Brasil é o meu lar emocional e musical”

Texto: Clarissa Mattos
Fotos: Ron Beenen


Ela é espanhola, mas mora no Brasil. Tem formação lírica, mas canta música popular.  Ela canta boleros, mas, no último trabalho, traz um toque de bossa nova . Diante de tantas contradições, a minha primeira impressão era de que essa seria uma entrevista difícil. Quando cheguei ao saguão do hotel, numa manhã de sábado em Haia, encontrei uma elegante e delicada mulher, que além de esperar pelo check-out, já me aguardava para ser entrevistada.

Na noite anterior, ela havia se apresentado no The Hague Jazz, evento que, em dois dias, atraiu quase 20.000 visitantes. No dia seguinte, se apresentaria no Festival de Jazz em Breda e antes da Holanda, já havia passado pela Alemanha, após uma longa turnê pelo Brasil.

Num português fluente, a sua voz suave - de uma forma cuidadosa e profissionalmente sendo poupada - respondia às perguntas de maneira natural, eloqüente e com uma transparente emoção. A suposta difícil entrevistada se revelou uma mulher sensível, que exala paixão pelo que faz e o nosso encontro se transformou numa agradável conversa sobre música, Brasil, gente, vida e sentimento.
 
C.M: Assim como o Brasil, a Espanha é um país onde a música é parte essencial da cultura. Você vem de uma família musical? O que despertou em você o interesse pela música?
M: Em termos clássicos, não venho de uma família musical. Ninguém na minha família fez carreira de músico, mas a minha mãe cultivava muita música na nossa casa. Ela cantava muito bem, gostava muito de dançar e passou isso para mim. Ela sempre foi a minha inspiração na música e foi uma influência decisiva quando decidi mudar do clássico para o popular.

C.M:  Como aconteceu essa mudança?
M: Estudei  canto lírico durante no Brasil e já fazia meus recitais de música clássica. Acho que tudo aconteceu simplesmente por curiosidade. Ou talvez, no meu inconsciente, já existia essa vontade de fazer carreira na música popular. Diferente de cantoras que, desde o começo, se planejam e se preparam para a carreira musical, eu fui levando a vida do jeito que ela ia e eu a aceitava do jeito que ela vinha. Tinha os meus planos, mas nunca pensei “Ah, eu quero ser cantora. Eu quero ser famosa”. Tudo aconteceu de uma forma muito natural e acho que, por isso, levo o canto com muita tranqüilidade.

C.M: E a disciplina da música lírica lhe ajudou na música popular?
M: Como tenho uma formação lírica, essa disciplina se impõe. Tenho muito cuidado com a minha voz e com o descanso do meu corpo. Eu sou o meu instrumento. Se eu estiver cansada, sem energia, tudo isso vai se espelhar na  minha voz.  Faço uma música popular de qualidade. É um canto transparente, onde a clareza e afinação da voz são cruciais. Por isso, tenho a minha dieta vocal. Não falo durante algumas horas depois de cantar. Relaxo, desaqueço a minha voz e a aqueço antes de cantar. Também cuido da minha alimentação e sigo regras básicas como não tomar gelado e não frequentar ambientes com som alto, por exemplo.

C.M: A dramaticidade do bolero parece incompatível com a suavidade da bossa e no final, tudo dá certo. Como isso funciona?
M: Nada é forçado. Queríamos que o bolero adquirisse uma nova roupagem, mas que soasse muito natural. A escolha das músicas também foi importante. Apesar do bolero se adaptar muito bem à bossa nova, alguns se adaptam melhor do que outros. Se você escuta La Barca com aquela batida de bossa nova, parece que sempre foi assim. Esse é o grande barato. A dinâmica da bossa com o bolero é o que faz o show tão especial.  Mas essa união só é possível porque tenho do meu lado esse grande maestro chamado Roberto Menescal, que é uma personalidade da música brasileira e um pessoa maravilhosa.

C.M.: E como é trabalhar com o Roberto Menescal, um ícone da Bossa Nova?
M: Ele me escolheu. Ele é um grande maestro e gosto muito de trabalhar com ele. Ele admira o meu trabalho e tira o melhor de mim. Sou muito grata por ele ter me escolhido. O melhor é que a gente se gostou muito desde o início e temos um contato pessoal muito bom.  Sou uma pessoa que demonstro muito meus sentimentos, sou muito aberta. O canto para mim é sentimento e quando lidamos com sentimento, com paixão, temos que trabalhar com pessoas que além de serem grandes artistas, tenham afinidade com o seu jeito de ser. Só tenho a agradecer.

C.M.: Ouvi dizer que ele, ao ouvir você cantar Insensatez de Jobim, fez o convite para o projeto. Foi assim mesmo? Como foi que esse encontro aconteceu realmente?
M: Na verdade, eu é que liguei pra ele. Eu e o seu filho, Marcos Menescal, temos o mesmo empresário e, através de Marcos, soube que ele tinha escutado o meu primeiro CD e que tinha gostado. De uma forma bem vaga e indireta, ele falou para o Marcos que gostaria de me conhecer. Assim, quando fui para o Rio de Janeiro fazer o show do Añoranza pensei: “seria tão bom, sendo estrangeira, cantar uma bossa nova como homenagem à cidade”. Aí, eu liguei para ele e perguntei se ele poderia fazer um arranjo para Insensatez. Ele concordou e quando estávamos na  sua casa discutindo o arranjo, ele falou: “sabe, eu não só vou fazer o arranjo,  mas a sua primeira bossa nova será acompanhada por mim.” Isso aconteceu no Rio de Janeiro e melhor não poderia ter sido.

C.M:  Já que você tocou na Bossa. Vamos falar um pouco do Brasil. Como o Brasil chegou para você? O que o Brasil representa para você?
 M: Fui para o Brasil por uma questão privada e estou até hoje. O Brasil é o meu lar emocional e musical. Canto música brasileira, com músicos brasileiros, tenho um filho brasileiro. Não há como não me sentir um pouco brasileira. Mas não quero que o público pense que tenho a pretensão de representar o Brasil. Sabe, esse tipo de coisa?“Ah, lá vem a espanhola, querendo dar uma de brasileira”. [com lágrima nos olhos] Tudo o que faço é uma homenagem ao país que amo, à música que adoro, ao país que é o meu lar e que pelo qual tenho um sentimento muito forte.  

C.M.:Como foi a escolha do repertório? Você já tinha algumas músicas favoritas?
M: O repertório foi escolhido a dedo. Eu já tinha algumas coisas que gostava de cantar, mas esse produto foi  pensado originalmente para ser lançado no Japão.  Então, precisávamos de clássicos, boleros internacionalmente reconhecidos.  O legal desse repertório é que é bem completo. Começa com boleros mais sofisticados, leves e bem suingados. Na segunda parte, tem boleros com uma maior dramaticidade. Depois vêm os boleros mais leves e algumas coisas de bossa que por sinal, canto sem a menor arrogância ou pretensão. Faço apenas como uma homenagem ao Brasil e à sua música maravilhosa.

C.M: Você fez uma tour no Brasil e na Europa. Existem diferenças regionais na reação do público? E a reação do brasileiro em relação ao europeu?
M: Existe naturalmente um termômetro. Fiz  shows na Argentina, Uruguai, estive em várias capitais, além de cidades como  Joinville, Caruaru e Mossoró. Na verdade, a reação foi muito parecida. O show foi muito bem recebido.  No final, as pessoas estavam lá, de pé, batendo palmas. E é pra isso que trabalhamos tanto. Não existe artista que não precise do público. Posso fazer um show perfeito, mas se não houver conexão com o público, não vai ser um sucesso. Ao ouvir as pessoas cantando comigo no final do show Gracias a La Vida, Guantanamera. Ai,só de lembrar, dá vontade de chorar. [ tocando os braços, ela expressa a sensação de arrepio]

C.M: E a diferença entre Europa e o Brasil?
M: Você acredita que eu falei para os alemães:  “Eu acho que estou no Brasil.” As pessoas receberam o show com tanto entusiasmo, com tanta euforia, querendo mais, que realmente me senti como no Brasil. Também fiquei muito emocionada quando o Vice-embaixador brasileiro, que me assistiu em Berlim, me disse:  neste momento,você é a embaixadora na Alemanha da música brasileira e cubana. A reação do público aqui na Holanda também foi muito boa. Estamos muito felizes. Conquistamos as pessoas por onde passamos

C.M: E o futuro? Já existem idéias para um novo projeto? O que vem por aí?
M: Já tenho um convite para o novo CD, que é uma parceira do México com o Brasil. Para o meu prazer, o Roberto Menescal vai me dirigir novamente. Mas ainda quero me concentrar em Boleros com Bossa. Esse é um trabalho com apenas 6 meses de vida. Agora vou para o México, depois descanso um mês.  Retornarei à  Europa para fazer shows na França e na Inglaterra e estamos preparando a turnê para o Japão. Farei ainda mais shows no Brasil e o CD será lançado nos EUA. Ou seja, até 2008 ainda estaremos trabalhando com o Boleros e Bossa.  

Perfil

Nascida nas Ilhas Canárias, a soprano Montserrat já morou no mais diferentes lugares de vários continentes e pode ser considerada uma cidadã do mundo. Hoje mora no Brasil, onde iniciou a sua carreira. O seu primeiro álbum, Añoranza, foi gravado em Havana e São Paulo no ano de 2003, quando teve a oportunidade de gravar uma coleção de boleros mexicanos e cubanos com grandes nomes da música latina. Em 2006, após o seu encontro com o produtor, compositor e grande personagem da bossa nova, Roberto Menescal, gravou Boleros com Bossa. Uma combinação da intensidade dramática do bolero com a suavidade e leveza da bossa nova, lançado em novembro do ano passado.

Veja mais fotos visitando o site de Ron Beenen

30/05/2007


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