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Fernanda Castro é de Niteroi formada em Direito pela Universidade Cândido Mendes-RJ e pós-Graduada pela Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ), trabalhou no Tribunal Regional Federal do Rio de Janeiro, antes de se mudar para Utrecht em março de 2008. Além de dedicada ao direito, é apaixonada por todos os tipos de artes e expressões, sociedade e cultura. Estudou dança clássica durante 13 anos e desde 1996 é bailarina de dança flamenca.

Te segura malandra!

Fernanda Castro

 

Meu querido Chico Buarque está coberto de razão.
O malandro pra valer aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal.

A malandra aqui, nascida no Rio de Janeiro, cobra criada em várias coisas interessantes, mas também – e infelizmente – nos assuntos referentes à violência urbana, assaltos, furtos, insegurança, etc, agora tem marido, casa, enteado, e tantas coisas novas pra pensar, fazer e decidir, que simplesmente foi furtada em plena Holanda!

Por mais incrível que possa parecer, ela deixou - consciente disso - sua bolsa dentro do carro (que não tem insufilm e que foi estacionado num lugar deserto), para dar uma volta.

Depois de constatado que o carro havia sido arrombado e sua bolsa não estava mais onde deveria, ela percebeu que havia perdido sua ginga carioca, sua esperteza e sensibilidade para captar lugares e situações de risco, e que talvez os últimos 9 meses de sua vida eram responsáveis por esse atitude digamos assim… descuidada.

Há 9 meses ela se mudou para um desses países do mundo onde a qualidade de vida é excepcional, e comparando com a cidade do Rio de Janeiro e arredores, a sensação agora na Holanda é pra ela de segurança absoluta, de total conforto e paz.

Os índices baixos de criminalidade nesse país, que se resumem a pequenos vandalismos - como furtos de bolsas em carros de pessoas descuidadas - fizeram com que ela mudasse naturalmente seus hábitos e sentimentos, assumindo e incorporando facilmente essa postura mais à vontade, mais despreocupada, mais confiante de que nada de mal vai acontecer.

Até que um dia, roubaram sua bolsa.

Por alguns instantes ela pára e se questiona como pôde deixar isso acontecer.

Para quem lia a violência física diariamente nos jornais cariocas como algo quase banal, ela já foi logo pensando: pelo menos estou viva… todo o resto poderemos comprar de novo…

E aí vem logo também a lembrança de que teria que passar pela polícia, despender horas do seu dia descrevendo tudo com detalhes, enfrentando essa atmosfera ruim, numa delegacia e tudo mais.

Mas o fim disso tudo seria ainda mais inusitado.

Como um organizado país, as delegacias na Holanda em geral são bem diferentes daquelas que ela já tinha visto no Rio. Mais como um escritório moderno, com móveis claros, sala para as crianças, limpo e atmosfera agradável, a delegacia onde ela foi prestar queixa era assim um exemplo de decoração. Para surpreender ainda mais, o policial, ao tomar conhecimento do caso, informou que alguns investigadores da cidade estavam se dedicando a ocorrências no mesmo estilo que aconteciam constantemente no local, e que seria interessante comunicá-los.

Mais ou menos 30 min depois, o policial volta com a notícia de que os tais investigadores haviam encontrado exatamente a bolsa que havia sido descrita por ela, com os mesmos pertences, faltando apenas o celular, o cartão de crédito, as bijouterias e as frutas.

Parecia um milagre. Dentro da bolsa havia um PDA (uma espécie de mini-computador) no valor de 400 euros, um rádio de carro novo, e os ladrões levaram as bijous e as tangerinas! O celular era o mais barato que existe no mercado, e o cartão de crédito, de banco brasileiro.

Alguns instantes depois, entra o investigador com a bolsa nas mãos.Ela mal podia crer que aquela cena era verdadeira. Há algumas horas atrás estava angustiada e triste, revoltada digamos assim, com a sua estupidez.

Agora, tudo resolvido como num piscar de olhos!
Obviamente que ao entrar na delegacia ela não imaginava um dia rever aquela bolsa. A idéia era ter um documento à mão que comprovasse o furto do cartão de crédito, caso ele fosse usado pelos bandidos. Mas a emenda acabou saindo melhor que o soneto.

No fim de tudo, já de volta pra casa com sua fatídica bolsa no colo e apreciando o pôr-do-sol pela janela do carro, ela respirou feliz e aliviada por não ter tido consequências mais chatas, e chegou à conclusão que ter cuidado, onde quer que seja, nunca é demais. Isso sim é ser malandra de verdade.

E como que num segundo, ela teve uma visão da sua querida avó Mariana, malandra-sábia desde os tempos da Bahia, que não se cansa de dizer sempre que alguém se julga mais malandro do que realmente é: o seguro, minha filha, morreu de velho!

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