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Johannes Goes, holandês, morou 15 anos no Brasil (Rio, Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza). Ensinava Inglês. Escreve por prazer, também autor e produtor de um Curso de Inglês de Conversação Prático. Casado com uma brasileira, 3 filhos e uma neta , mora no Algarve, Portugal.

 

A influência árabe na paisagem e na  Língua Portuguesa
no conto de “ O Mouro e a Sueca”.

 

Sabe-se que as almendoeiras foram introduzidas no sul de Portugal por um mouro, que queria agradar à sua esposa, recém-importada das terras escandinavas.

Plantadas e batizadas de ‘amendoeiras’ no Algarve, logo em janeiro estas árvores florescem e os campos parecem planícies ondulantes cobertas de neve, um panorama de brancura para qualquer princesa nórdica sentir-se em casa. Por isso no castelo em Alvor, no Algarve, onde moravam o mouro e a sua princesa sueca, a vida corria a mil maravilhas, embora às vezes pudesse ser um bocado monótono para Godafrida, a lendária princesa indiretamente responsável pelo plantio das amendoeiras naquela região.

Muitas vezes as únicas  atividades que exercia durante um dia inteiro era  movimentar o seu alicate para cortar as suas unhas e um alfinete para cutucar os calos nos seus pés, ou no seu caso, vestindo tamanho 44, podia se muito bem falar em seus pezões. Era nestes pezões, verdadeiros alicerces de um corpo monumental, que os calos apareciam, causados pela má qualidade das alcatifas feitas no Alentejo.

Seu marido, o mouro, também conhecido nas altas rodas  e nos botecos da aldeia pela alcunha de Alárab, exercia a profissão de aldrabão num alqueire de terra, onde tinha exposto e negociava alfaias agrícolas aldrabadas e alcatruzes furados para noras e a pesca de polvo sob um alvará emitido pelo Alcaide.

Um dia este mouro foi visitar os aposentos da Sueca,  para mostrar a ela a nova túnica que o seu alfaiate particular tinha lhe feito e abriu a porta sem bater primeiro. Mouro que é mouro, não bate nas portas da sua mulher. Mouro mete a mão na alavanca da porta e vai entrando. Sua Loura estava deitada numa alcova por cima de umas almofadas azuis escuras, tomando licor de amêndoa, um licor gostoso com 60% de álcool e que dava um belo porre.

O Mouro lhe dirigia a palavra com muita ternura:
" Olhe sua baiaca branquela, estais a tomar esta porcaria de novo?"
Por de trás do seu véu a esposa lançou-lhe um olhar gélido que só aquelas de olhos azuis, muito azuis, podem lançar. Apesar do calor que fazia, o mouro sentiu um frio arrepiante.

" E tu, seu turco alcatroado cafajeste, já não bates nas portas para entrar, cadê a tua educação?” Sem esperar pela resposta ela tomou outro gole e para tal teve que levantar o véu. Não vestia nada por debaixo, o que fez o mouro pensar ” Mas como Allah é grande” e a visão divina o incitou a dizer: " Porra, tu tá ficando cada vez mais gorda e com mais alvura, minha Albatroz, pareces uma baleia branca“.

Toda alvoroçada, indignada e buzinando de raiva veio a resposta:" Almejas que eu fico prenha sem engordar? Alias é bom que você saiba: Vou pôr para fora a qualquer hora agora.”

"Já estais para parir de novo? Boas noticias são estas.   Allahluia. Aliás já estava na hora, já que os seus compatriotas devem chegar daqui uns 3 meses."

Fazia a conta mentalmente: devia ser o seu sétimo ou oitava varão. Até agora todos os filhos da princesa, cabelos louros como palha de trigo, nasceram sempre  uns 3 meses antes da visita anual dos Vikings em junho. Estes Vikings nunca falharam em vê-la a caminho para o saque anual, selvagem e sangrento, das cidades de Alcantarilha e Alcácer do Sal. Sempre trouxeram um presente da senhora sua m ãe, a Rainha Hagoberta da Suécia.

Todos os anos o presente era igual mas o que valía era a boa intenção, um gesto de amor de mãe para filha. Era um par de meias que ia até o joelho, portanto meia mesmo e uma cueca, vestimentos estes tricotados com algodão grosso pela Rainha-Mãe, ela mesma,  durante o longo inverno dos países nórdicos.

Pouca idéia fazia a santa sua mãe que estas meias não combinavam nem um pouco com o véu de seda pura, feito a mão em Bagdad no harém do profeta Al Sadã, muito menos fazia ideia que a filha nos dias de calor não usava cueca e só vestia mesmo aquele véu, a sua aliança de esmeralda no dedo e mais nada.

Como no Mês de Junho já fazia um bom calor, não é de se surpreender que os Vikings quando alcançavam estas costas, em vez de alugar uns quartos no albergue local na alameda  prinicipal, faziam questão  em "ir e vê-la". Chegavam sempre na porta do castelo logo cedo na alvorada e indagados pelo algoz (que em tempos fracos se fazia de guarda), o que vieram aí fazer, respondiam " Viemos vê-la".  Depois de verificar os vistos dados pela alfândega nos seus passaportes e de tomar nota dos algarismos dos seus bilhetes de identidade e CPF's, o guarda, como já os conhecia dos outros anos, os deixava entrar.

Dava uma algazarra aquele reencontro. Como o Viking que é Viking não toma licores doces, a princesa mandava vir o que havia do bom e do melhor em matéria de pingas feitas nos alambiques nas caves do castelo e guardados a sete chaves nos almoxarifados. Mandava preparar enormes almôndegas com molho de alho e alecrim, acompanhadas por uma salada de alface, alfazema, alfavaca, alcaparra e alcachofra e isto era só para o almoço.

A noite tinha alcatra no alguidar de barro queimada por fora e por dentro  no forno a lenha.

Quem conhecia aquela alcatéia de Vikings de bocas caladas, ficaria surpresa o que uns copos de pinga podiam fazer. Dizer que o alarido que faziam durante uns dias era uma algazarra é dizer pouco, melhor dizer é que era uma zona!

O mouro não gostava de pinguços e muito menos deste tipo de confusão. Ele, algures, se afastava e aproveitava para ler num cantinho do quintal  numa bela sombra por debaixo de uma frondosa
alfarrobeira o seu livro favorito  " Ali Babá e os 40 Ladrões".
Ignorava a bagunça que se aprontava dentro do Alcázar.
Ignorava que 3 meses antes é a mesma coisa que 9 meses depois.

©John Goes, Albufeira, 2006.

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