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Margô Dalla - natural de Colatina, E.S. , formada em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Espírito Santo, com especialização em jornalismo e fotografia. Desde 1975 trabalha em veículos de comunicação - jornais impressos como repórter e fotógrafa e em emissoras de televisão apresentadora de jornal. Nos últimos 5 anos, tem prestado Assessoria de Comunicação no Congresso Nacional em Brasília.

 

Entrevista com Fernando Gillich e Marjolijn van den Brandt
Texto por Margô Dalla
Fotos: Henk Schutte

 

 “Bem me quer, mal me quer” Houdt van e houdt niet van me.

“Duo” de Fernando Gillich e Marjolijn van den Brandt

 

Uma dupla – um Duo – Marjolijn van den Brandt e Fernando Gillich formaram o Cantiga Teatral. A cultura holandesa se juntando à cultura brasileira em espetáculos inesquecíveis e bem montados.

Fernando Gillich formou-se na Escola de Teatro Martins Pena no Rio de Janeiro em 1984. Neste mesmo ano, fez seu primeiro trabalho profissional, “E o Vento não Levou” com Iara Amaral e Maria Fernando com direção de Roberto Vinhati no Teatro Copacabana. Em 1989, fez Escola de Dança contemporânea – pesquisa de movimento de Angel Viana, recebendo o diploma de dançarino contemporâneo, juntando assim o ator com o bailarino. Fez também “Nos Tempos da Opereta” - só para citar alguns – onde também cantava, e a partir daí, o canto começou a fazer parte de sua bem sucedida carreira internacional.
Fernando trabalhou 10 anos no Brasil como ator profissional e é um artista completo: dança, canta e é ator.

MD - Qual o registro de sua voz?

FG - Sou baixo barítono que é uma voz grave. Existem três registros de voz masculina – tenor, barítono e baixo barítono. O tenor tem a voz mais aguda, o barítono, uma voz média e o baixo barítono, voz grave. Eu sou um baixo abaritonado porque eu tenho uma escala grande de notas altas para um baixo– eu consigo cantar notas altas.

MD – Quando começou sua carreira internacional?

FG – Em 1994, eu participei de um show e fui para o Japão cantando.

MD – Era um grupo brasileiro?

FG – Não. Era um produtor japonês que todo ano ia para o Brasil, selecionava pessoas e levava o show para o Japão por seis meses. Um show brasileiro com samba e carnaval – tinha que ter um apresentador e eu fazia isto. Apresentei  também o show no Scala do Rio de Janeiro. Substitui o Nilton Prado no show cantando e apresentando. Durante estes meses em que estive fora, comecei a pensar seriamente em fazer uma carreira internacional. Eu estava preparado para enfrentar qualquer outro país.

MD – O seu pai é holandês. Este fato influenciou sua escolha pela Holanda – você já freqüentava o país e tinha família aqui?

FG – Sim claro! Mas eu não tinha contato com a minha família, então vir para cá significava também resgatar um pouco da minha história. Durante um tempo, nós mantivemos algum contato por cartas, mas depois faleceram e ficou um vazio a ser preenchido – uma parte importante da minha descendência. Decidi começar por aqui pela facilidade de ser metade holandês e já ter a cidadania. Foi uma fase de muito aprendizado, pois eu não sabia o idioma. Tive que estudar por dois anos e meio a língua paterna. As coisas foram se encaixando – claro, demoraram um tempo, mas após 14 anos, estou perfeitamente adaptado e todas as coisas funcionam de forma natural para mim.

MD – Você tem uma parceria consolidada com a pianista holandesa Marjolijn van den Brandt.  De que forma se deu este encontro?

FG – Este encontro se deu há nove anos quando a conheci nos ensaios para uma audição- uma demonstração pública do grau de adiantamento dos alunos de uma classe musical- de um professor holandês de música, onde eu era um dos alunos e iria também me apresentar. De lá pra cá, estivemos juntos em inúmeros projetos e comecei a mostrar, a introduzir a música brasileira para ela, que imediatamente se apaixonou. Em uma dessas apresentações um amigo falou de nossa enorme afinidade e sugeriu que seguíssemos juntos em nossas carreiras; daí veio à idéia de ir para o Brasil pesquisar antigas partituras na Biblioteca Nacional. Ficamos durante três semanas indo diariamente àquele local para descobrir tesouros da música brasileira para montarmos um concerto musical.

MD – Você já conhecia muitas músicas. Isso facilitou o trabalho de seleção? E o que mais encontraram lá?

FG – Começamos a fazer uma seleção por compositores, por músicas – mas não tínhamos idéia se seriam ou não composições para o meu tipo de voz e fomos juntando este material, tirando xerox e usando uma sala da Biblioteca com piano. Íamos para a sala - tocávamos e cantávamos. No final, tínhamos uma lista de 200 partituras.

MD – E voltaram para a Holanda com este material. O aconteceu depois?

FG - Voltamos e selecionamos todas as composições com o tema “Saudade” que era um sentimento que eu queria muito falar- queria falar da falta de estar em “casa”, da saudade do país, dos amigos, da família, da atmosfera do Brasil.

MD – Com este precioso material, aconteceu o primeiro espetáculo da dupla?

FG – Sim. Nosso primeiro espetáculo se chamou “Apenas uma Saudade” em holandês “Aleen maar Helmwee”. Um concerto teatral com canções de compositores clássicos brasileiros que retrata basicamente estórias de amor, nostalgia, solidão e paixão – o papel da saudade e da nostalgia dentro do tema amor.  Contamos e cantamos a saudade e a nostalgia nos tempos de infância – quando o mundo ainda era inocente, alegre e suave, - a vida dos escravos africanos que influenciaram a cultura brasileira – a nostalgia deles em relação à raça e religião e a saudade de suas raízes. Todos esses sentimentos em canto e poesia. 

MD – Como você Marylin se sentiu pesquisando todo este material em um país diferente – com melodias desconhecidas para você?

MV – Eu sinto como se fizesse parte de todo aquele contexto. É um sentimento forte e indescritível. Emociona-me e ouço meu coração quando estou tocando música brasileira. Eu gosto dos poemas e do jeito que é feita a composição. É diferente, original e eu adoro.

MD – Como foi sua trajetória com a música?

MB – Iniciei minha carreira no sul da Holanda, vindo depois para Amsterdam. Eu não queria ser solista, mas sim acompanhar os cantores. Há sete anos eu comecei com músicos que queriam  atuar em concertos e precisavam ter aulas.

Quando conheci Fernando me deparei com um novo mundo aberto para mim porque a música vinha do coração. A música européia é muita bonita, porém todo mundo toca. A composição brasileira estava aberta para mim. O que me fez crescer foi a composição de Villa Lobos, pois era muito difícil e eu precisei estudar muito para entender a linha melódica do compositor brasileiro. Continuo tocando as canções européias, mas a minha vontade é de cada vez mais, aprender e estudar os compositores brasileiros. E o complemento para tocar bem é tocar como um brasileiro. Temos que sentir e entender a música. A música européia tem que ser feita de acordo com o que está composto, mas a brasileira a gente pode fazer o que estiver sentindo. Quando aprendi a tocar deste jeito, nunca mais parei.

MD – Obrigada Marjolijn. É muito importante para nós brasileiros a opinião de uma profissional sobre as nossas músicas e compositores. Como você recebe esta manifestação da Marjolijn, Fernando?

FG – Com muito respeito aos nossos artistas. No Brasil continuam tocando a música clássica brasileira no nível de solos e sinfonia; no entanto, a canção erudita precisa ser mais ouvida e tocada; então quando a gente se depara com uma pessoa do outro lado do oceano interpretando e se preocupando em difundir a música erudita brasileira, é fantástico.

MD – Vocês já fizeram algum espetáculo no Brasil?

FG – Ainda não! É o nosso grande sonho! Quando nós estávamos fazendo a pesquisa, uma pessoa que trabalhava na Biblioteca Nacional, perguntou por que estávamos copiando as partituras e respondemos que estávamos montando um trabalho na Holanda e ela disse que só fora do Brasil faziam estas coisas e relatou que existe uma brasileira no Japão que de tempos em tempos vai até lá copiar músicas eruditas para cantar naquele país e agora a gente aqui. Este tipo de música precisamos cantar empostado e com técnica. Os textos são mais antigos e as gerações brasileiras mais novas não estão interessadas em conhecer este tipo de musica. Infelizmente. Nós encontramos partituras tão antigas e empoeiradas que se quebravam nas mãos.

MD – Qual o tema deste novo espetáculo?

FG – Quero falar um pouquinho dos três. O primeiro - nosso grande desafio! Falamos de saudades e colocamos toda a nossa emoção nas saudades das montanhas, do mar, dos cheiros, dos familiares que já morreram, dos amigos que não estão mais presentes ao nosso lado, amores que se foram, nossa infância... Uma caixinha de música – um grande orgulho que tenho, pois se tornou uma grande e grata surpresa para quem o assistiu, devido ao nível de profissionalismo e qualidade das pesquisas e escolhas que fizemos.

O segundo, de nome “Express Brasil”, retratamos a nossa viagem, a nossa história de ir ao Brasil, fazer a pesquisa, subir à montanha, ir ao Cristo Redentor, andar no Pão de Açúcar. Mostrar a Marjolijn toda esta viagem– então, pensamos: vamos levar a platéia a viajar conosco por todo o Brasil – claro que é um país muito grande – então decidimos dividi-lo em regiões. Colocamos fotos atrás que iam sendo projetadas; então a platéia entrava, ouvia a música, via as imagens e começava a viagem. Foi tudo muito lindo e tivemos um retorno enorme, pois mostrávamos nas imagens lugares, tipos étnicos brasileiros e falávamos sobre tudo isto.

Inúmeras músicas foram compostas para negros, indígenas e brancos. Alguns compositores trabalharam com isto; então a gente contou esta história.

O próximo que estrearemos chama-se “Bem me quer, mal me quer”- em holandês “Houdt van e houdt niet van me”- uma seleção de músicas com o tema “Amor”- o que podemos dizer é para levar o lencinho de papel – pois são músicas e poesias belíssimas.

MG – Você canta em português?

FG – Sim! Eu canto as músicas originais em português! Um trabalhão! O nosso trabalho é assim: a gente traduz tudo para o holandês. Sempre fazemos um livro – um programa, onde tem toda a seqüência das músicas em holandês e as pessoas acompanham. Eu quando canto, conto uma história e quero que as pessoas entendam as palavras que estou cantando; daí a nossa decisão de fazer um espetáculo teatral. É um concerto teatral onde tem uma “historinha” que o público pode acompanhar. A interpretação é pessoal e cada um  interpreta de seu jeito.

Neste espetáculo a gente tem as músicas e entre elas, textos de Arnaldo Jabour do “Eu sei que vou te amar” de onde tiramos alguns textos para ilustrar. Quando duas pessoas se amam, o que acontece? Quando você ama e vai embora. Como é a reação?

MD – O que usam como cenografia?

FG – O primeiro foi se montando junto com o desenrolar do espetáculo. Quando terminava, existia um pedacinho do Brasil no palco, como a estátua de Iemanjá, fogueirinhas de São João entre outros recursos visuais. O segundo  usamos malas, sino do trem e atrás, o telão com imagens brasileiras. O terceiro será uma surpresa, mas garanto que está muito lindo.

MD – E o figurino?

FG – A gente pensa também em um figurino, de forma que as pessoas entrem no clima. Ele é simples, porque o mais importante é a música; então temos um figurino dentro do contexto que estamos apresentando, da história que estamos contando e de acordo com a música.

MD – A Marjolijn, além de tocar, canta e atua também?

FG – No princípio ela tocava, mas agora está saindo da “casquinha do ovo” e cada dia mais ela participa de tudo. Ela adora a idéia de também atuar.

MD – Você assina também a direção?

FG – A concepção é nossa, mas eu gosto sempre de um terceiro olho – um diretor – que diga o que é necessário para mudar e que conduz o nosso trabalho. Quem está dirigindo “Mal me quer, bem me quer” é o Carlos Lagoeiro - brasileiro, radicado na Holanda há vinte anos, muito conceituado,  com trabalhos reconhecidos, importantes e que está nos dirigindo pela segunda vez.

MD – O trabalho de vocês é direcionado para determinado público?

FG – Não! Meu trabalho com a Marjolijn não é direcionado para um público específico. É muito aberto e abrange quase todo tipo de público. Aqui na Holanda acontece uma coisa muito legal. Desde cedo, as crianças acompanham os pais ao teatro e desde cedo elas são educadas musicalmente. Então todos gostam por ser melodioso e fácil de absorver.

MD – Como é dividido o espetáculo?

FG – Normalmente dividimos por grupos. Por exemplo: grupos com três, cinco canções, – um intervalo sempre. A primeira parte leva de 35 a 40 minutos e a segunda, de 30 a 35 minutos. São dezenove canções e três solos.

MD – Quais os compositores brasileiros que vocês escolheram?

FG – Villa Lobos, Ernani Braga, Cláudio Santoro, Babi de Oliveira, José Siqueira e Jayme Ovalle.

MD – E o próximo espetáculo? Vocês já têm alguma coisa em mente?

FG – Estudamos as possibilidades. Estamos querendo falar sobre os negros.

MD – Quando e onde será o “Bem me quer, mal me quer”?

FG – Apresentaremos o espetáculo nos dias 24, 25 e 31 de maio aqui em Amsterdam, na Synagoge Uilenburg.

MD - Vocês pretendem viajar com o espetáculo?

FG - Claro que sim! Estamos precisando de um “agente” para que possamos mostrar o nosso trabalho aqui na Europa e também no Brasil.

Gostaria de aproveitar a oportunidade para citar o meu eterno professor Vitor Prochet-  Ele é parte importante de minha técnica musical.

MD – Muito obrigada e sucesso no espetáculo!

Serviço:
Bem me quer, mal me quer – Houdt van me houdt niet van me
Data: 24, 25 e 31 de maio/2008 – 20:00/15:00/20:00 hs
Local: Synagoge Uilenburg – Nieuwe Uilenburgerstraat 91 – Amsterdam
Site Fernando: http://www.geocities.com/fefigillich/curriculumvitaenl.html
Site Marjolijn: http://www.pianoleswinkel.com/

 

 

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