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Postado em 28/08/2019

Autismo, Hiperfuncionalidade e a Síndrome do Mundo Intenso

Colunista Fatima de Kwant
Autor: Fatima de Kwant é correspondente do Projeto Autimates na Holanda e disseminadora de informação sobre autismo na Europa. Mais colunas deste autor

Meu blog sempre aborda o TEA – Transtorno do Espectro do Autismo – sob a perspectiva não deficitária. Desse modo, ajudo meus clientes – e a meu próprio filho – a se desenvolverem além das expectativas.

Recentemente, chegou às minhas mãos um artigo de 2015, não tão recente, mas que ratifica minha visão ampla do autismo, não como disfuncional, mas hiperfuncional.

Abaixo, o artigo numa tradução livre do original, no Time 

“E SE OS AUTISTAS FOSSEM, NA VERDADE, HIPERFUNCIONAIS?

 Um artigo científico publicado em 2015, no jornal Frontiers in Neuroscience sugere que o cérebro autista, na realidade, é hiperfuncional, mais do que atrofiado ou deficiente e que, se tratado precocemente num meio ambiente previsível, os sintomas podem diminuir.

 Em 2007, os pesquisadores Kamila MarkramHenry Markram Tania Rinaldi desenvolveram uma teoria alternativa para o autismo, chamada “Intense World Syndrome” ( Síndrome do Mundo Intenso). Eles acreditavam que o autismo não fosse uma forma de deficit mental, mas que o cérebro, na verdade, é sobrecarregado e hiperfuncional. Isso faz com que os estímulos sobrecarreguem os autistas, acarretando no seu retiro social e emocional como modo de auto-preservação.

 Neste novo estudo, pesquisadores do Swiss Federal Institute of Technology in Lausanne , incluindo Henry Markram e Kamila Markram, mostraram como o autismo poderia ser tratado segundo esta teoria.

Os cientistas utilizaram um grupo de ratos e os espuseram a uma droga chamada “valproate” (VPA), que é um processo comumente usado para modelar o autismo entre os roedores. Os cientistas, então, expuseram os ratos a tres diferentes meios ambientes. O primeiro, um meio ambiente padrão: uma típica gaiola de laboratório. O segundo era um meio ambiente imprevisível, com equipamentos como uma roda de corrida brinquedos e lugares para se esconderem. Neste meio ambiente, os pesquisadores de vez em quando mexiam na gaiola, trocavam brinquedos de lugar e reorganizavam o espaço. A terceira era um meio ambiente previsivel, onde haviam estímulos como brinquedos e uma roda de correr, mas após cada limpeza a gaiola era mantida igual, e nada era movido do lugar.

 Os cientistas descobriram que os ratos expostos ao VPA eram mais sensíveis a seus meios ambientes habituais comparados com ratos controlados. Os ratos-VPA morando no meio ambiente previsível não desenvolveram o mesmo comportamento emocional (ansiedade e medo) que os ratos-VPA expostos a meio ambiente imprevisível, e aos ratos do meio ambiente padrão.

Os cientistas concluíram que um ambiente imprevisivel e desordenado aumenta os sintomas nos ratos, mas um ambiente bem mais previsivel pode prevenir estes ratos de desenvolver os sintomas.

 Apesar do estudo preliminar ser feito em ratos – e não em humanos – Kamila Markram diz que, ainda assim, a pesquisa tem implicações para as crianças autistas de como poderiam tratadas no futuro. “Muitas terapias reconhecem que a estrutura e previsibilidade é importante, mas nenhuma intervenção colocou isso na questão central”, diz a cientista. “Acreditamos que é preciso prestar mais atenção a isso e ao processametno sensorial.”

 Num cenário ideal, Markram diz que crianças autistas poderiam ser diagnosticadas quando bem jovens e então criadas num ambiente estável e previsível. “A criança seria tratada com as mesmas direções, os livros estariam nas mesmas prateleiras, os brinquedos sempre no mesmo lugar.” Ela afirma, tambem, que é necessario mudar o modo das pessoas verem o autismo como um todo. “É importante que nos afastemos do modelo do autismo como um deficit”. “Se o pesquisador tem esta visão, isso muda o jeito de pesquisar. Se o pai ou mãe têm esta visão, isso muda o jeito de tratar o filho.”

 Por Alexandra Sifferlin

Tradução: Fatima de Kwant

 Link original

Os autistas não perdem tempo pensando. Eles passam o tempo sentindo

A hiperfuncionaidade sensorial permite que captem sensações e emoções antes de outras pessoas.
Neurotipicos observam as palavras e expressões faciais e corporais para emitirem opiniões mas os autistas, quanto mais severos, mais contam com suas sensações que os avisa (protege) da intenção alheia em relação a eles.

Quem julga o autista como não sabendo de nada, não sabe nada do autista porque ele sente mais do que fala, vê, ouve, toca, prova. Ele usa mais que os cinco sentidos e o sexto que todo mundo acha que tem.

*Fatima de Kwant é mãe de um autista adulto, especialista em Autismo & Desenvolvimento e Autismo & Comunicação. Reside na Holanda desde 1985 e faz a conscientização do autismo através do Projeto Autimates.

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