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Raimer Rodrigues Rezende é mineiro de Belo-Horizonte estudou Antropologia – bacharelado - na Universidade de Amsterdã – UVA, e agora faz um mestrado de dois anos em Políticas Ambientais "Sustainable Development: Environmental Policy and Management" na Universidade de Utrecht.

 

Indígenas sofrem com desmatamento
Entrevista com Winchi, presidente da Associação Indígena Kinsedgi Aika

 

Texto & Fotos : Raimer R. Rezende

 

Winchi é o presidente da associação comunitária dos Kinsedgi, Associação Indígena Kinsedgi Aika, que existe há quatro anos. Ele se queixa que o clima da sua região está sofrendo muitas mudanças e que estas estão atrapalhando o modo de vida tradicional dos índios. Segundo ele, as mudanças são resultantes do desmatamento indiscriminado: “Quando eu cresci, aqui tudo em volta era mata, agora tá tudo desmatado, virou tudo plantação de soja e pastagem”.

Os Kinsedgi são um dos 14 povos que vivem no Parque Indígena do Xingu no Mato Grosso. Devido à expansão do ‘homem branco’ na região, os Kinsedgi perderam grande parte de suas terras e foram expulsos para dentro do que é hoje o parque. Há alguns anos, eles conseguiram recuperar parte da terra que haviam perdido. A aldeia onde Winchi mora, que é uma das quatro da tribo, está nessa área retomada de fazendeiros. A aldeia tem por volta de 360 moradores e só 8 anos de existência. Eles receberam a terra desmatada e pisoteada pelo gado dos fazendeiros e a má condição do solo dificulta a produção de alimento da maneira tradicional. Entretanto, com ajuda externa, como por exemplo do Instituto Socioambiental, eles estão pouco a pouco recuperando a terra e reflorestando-a.


Mudanças climáticas
Winchi diz que o desmatamento ao redor do parque está provocando profundos impactos, eles percebem, por exemplo, vários sinais de mudanças no clima da região. Durante a conversa, Winchi aponta para o rio e diz que nessa época de seca ele deveria estar muito mais baixo. Isso é um problema para eles por vários motivos. Em primeiro lugar, porque atrapalha a desova do tracajá (espécie de tartaruga). Esse animal, que faz parte da dieta dos índios da região, bota seus ovos na praia do rio, não podendo se reproduzir se o rio não baixa o suficiente. Além disso, o fato de as chuvas não virem no momento esperado está prejudicando o cultivo tradicional indígena. Não mais sabendo a hora certa de plantar, eles muitas vezes acabam perdendo parte do cultivo porque as chuvas caem muito cedo ou muito tarde. Winchi também comenta que “o sol está muito quente e a vegetação muito seca. Aí quando pega fogo na mata, o fogo vai muito longe”.

Poluição dos rios
Além das mudanças climáticas, os indígenas sofrem com a poluição das águas. Foi baseado nesse argumento que eles conseguiram expulsar os fazendeiros e retomar parte de sua terra. “A poluição das fazendas estava matando os peixes e trazendo doenças.” A situação melhorou, entretanto, o problema ainda não está resolvido. O grande uso de agrotóxicos pelos plantadores de soja ainda polui muito os rios e prejudica os moradores do parque. Foi por causa desse impacto das plantações que o Instituto Socioambiental lançou a campanha Y Ikatu Xingu (que em uma língua local significa água limpa e boa do Xingu). Através dela, o ISA está ajudando a recuperar as matas ciliares dos afluentes do rio Xingu. Como as nascentes dos rios que abastecem o Xingu se encontram fora do parque, ele funciona como um funil, absorvendo a poluição que vem de fora. Para mudar a situação, a campanha está promovendo diálogo e cooperação entre grandes e pequenos fazendeiros com líderes indígenas. Ela também disponibiliza sementes e mudas para o plantio, além de oferecer assistência técnica gratuita.

Responsabilidade
Quando perguntado sobre de quem é a responsabilidade pelos problemas ambientais na região, Winchi disse que é em primeiro lugar dos fazendeiros que estão desmatando. O governador do Mato Grosso Blário Maggi, por exemplo, é o maior produtor de soja do mundo, e possui grande produção na região. Mas Winchi acredita que a responsabilidade também é de quem compra a produção sem querer saber de onde vem e como é feita. ‘A soja é boa pra eles, porque eles se alimentam disso, mas pra nós aqui dá problema. Então eles têm que ter consciência’. Winchi ficou feliz de saber que alguns de nós aqui na Holanda, segundo maior comprador da soja brasileira no mundo, estamos interessados nas consequências do nosso consumo e queremos mudar a situação.

Esta entrevista foi feita em uma visita ao Parque Indígena do Xingu durante uma viagem organizada pelo ICCO (como parte de sua campanha Fair Climate). Para mais informações sobre a viagem e a campanha visite o site Fair Climate , ou leia entrevista feita anteriormente no Brasileiros na Holanda .

 

22/09/2008       

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