O evento aconteceu em uma tenda térmica
de mais de 2.000 m2, armada na praça Ro-
detorenplein, no centro da cidade, e a tem-
peratura em seu interior, chegava a 8 graus
negativos, necessários para manter as escul-
turas “vivas”, sem derreter.
Como meu amor pela profssão é maior que
meu amor pelo meu sofá e por meu chocola-
te quente, topei o desafo.
Vesti a minha armadura para guerra: uma
meia-calça térmica, duas meias de lã, três
camisas, um cachecol, um sobretudo de
couro e lã, luvas, gorro, e mais um cachecol
só para garantir. Máquina fotográfca e os velhos e bons papel e caneta
(ainda não me vejo fazendo matérias jornalísticas digitando em um tablet
ou usando um smartphone). Como todo holandês que se preze, fui de
bicicleta, ansioso para descobrir esse mundo glacial montado no centro
da cidade.
Contos e fábulas
Quem não conhece a história de Chapeuzinho Vermelho? E da Bela Ador-
mecida? E quem nunca ouviu a história das belas e longas tranças de Ra-
punzel? Quem já teve medo de comer uma maçã envenenada? E quem
já teve momentos de A Gata Borralheira? Essas e outras fábulas e contos
de fadas fzeram e fazem parte da infância de muitas gerações no Brasil
e no mundo.
E estes são apenas alguns dos muitos contos encantados criados, ou
melhor, re-contados por dois irmãos alemães, Jacob e Wilhelm Grimm, ou
mais conhecidos como Os Irmãos Grimm.
Essas fantasiosas e imortais histórias já são conhecidas e difundidas pelo
nosso planeta há 200 anos, e por isso o livro com coletâneas de fábulas
e contos dos Irmão Grimm, seja, depois da bíblia, o livro mais famoso do
mundo, tendo sido já publicado em 160 idio-
mas, existindo mais de 26 milhões de cópias
por toda a terra.
E por essa magia e grandeza, e por comemo-
rarem 200 anos dessas lendas, os organiza-
dores do
Ijsbeeldenfestival
resolveram, este
ano, recriar em gelo o mundo mágico dos es-
critores alemães responsáveis, até hoje, por
instigar a imaginação e transportar as crian-
ças de todo planeta para o mundo mágico
dos Grimm.
O mundo mágico e gelado
O percurso feito a pé lhe conduz por vários mundos e histórias, e os de-
talhes e a grandeza das esculturas chamam a atenção. O frio é intenso,
mas bem agasalhado, você nem dará conta disso e lhe permitirá explorar
as imagens e reviver cada fábula.
Mesmo com o frio, não tremi de medo das bruxas malvadas petrifcadas
em minha frente, mas confesso que fquei emocionado ao ver bem de
perto, a verdadeira Branca, literalmente, de Neve!
Diversão garantida para crianças e adultos, que também puderam intera-
gir com algumas das esculturas, como entrar na carruagem da Cinderela,
na Casa de Doces de João e Maria, e ainda deslizar em um escorregador
de gelo.
No fnal do percurso, o frio já era sentido em minhas mãos nuas, mas não
pude deixar de contemplar por alguns minutos, as esculturas dos dois
grandes mestres da literatura infantil, Os Irmãos Grimm, congelados em
uma ação que os consagrariam durante muitos e muitos anos, o escrever.
Depois desse gélido mas fabuloso desafo, nada melhor que uma caneca
de chocolate quente, para aquecer o corpo, e a alma.
Zwo l l e
Bem vindos ao mundo fantástico dos Irmãos Grimm, aos 8
graus negativos
Um“tremendo” desafo -
Recebi um convite da amiga e diretora do site Brasileiros na Holanda para fazer uma cobertura jornalística de um evento muito
particular que estava acontecendo em minha cidade, Zwolle, que fca na província de Overijssel, leste do país.
Com temperaturas negativas, a Holanda se torna no inverno um país onde as pessoas, podendo optar, não abrem mão do seu
cobertor, do seu sofá, e do seu “warme chocolademelke” (chocolate quente), e devo confessar que eu, apesar de estar há ape-
nas um ano e meio morando em terras baixas, logo me adaptei a esse costume.
Por isso chamo de “tremendo” desafo o que me foi proposto. Cobrir um evento cultural, uma exposição de obras de arte. Até aí
tudo normal, se não fossem as particularidades dessa exposição. Trata-se do Ijsbeelden Festival, uma exposição de esculturas
de gelo que há dois anos acontece em Zwolle e começa algumas semanas antes do Natal e vai até fnal de Janeiro.
Texto e fotos: Rodrigo Leal Nunes(c)
R E C AN TO S DA HO L ANDA