Page 4 - 07-05-2014inc

This is a SEO version of 07-05-2014inc. Click here to view full version

« Previous Page Table of Contents Next Page »
A história da empresária Shieglee Ferreira é uma dessas que
comprovam que a vida dá voltas. Ela nasceu em uma tribo
indígena e já morou em uma perigosa favela no Rio de Janeiro,
mas hoje Shieglee é dona de uma empresa que exporta artigos de
luxo, conheceu inúmeros países e fala seis idiomas.
Lembranças antigas
Shieglee morou até os cinco anos com a avó em uma tribo
indígena no Amazonas, saiu quando a mãe foi buscá-la para
viver no Rio de Janeiro. “Coloquei roupas e viajamos de ônibus
por quase uma semana. Passei muito mal na viagem, só dormia e
vomitava”. No apartamento moravam os sete primos, a tia, a mãe,
o padrasto e a irmã dele. “Lembro-me de fcar surpresa ao ver os
carros nas ruas, de ver a àgua saindo da torneira e a luz sendo
ligada. Mas a única recordação que tenho da tribo só veio quando
visitei a Tailândia, pois o aroma peculiar de lá era muito próximo
do cheiro que havia na tribo, foi pelo olfato que a minha memória
despertou um pouco”.
Logo depois, a avó foi morar com a família no Rio de Janeiro, mas
não sabia usar o fogão, vivia chorando na janela, morria de calor e
meses depois faleceu. “Tive que deixar de chamar a minha avó de
mãe, e aprender a chamar a minha mãe assim. Para proteger-me
de qualquer tipo de abuso, minha mãe vestia-me de menino com
as roupas gratuitas que conseguia embrechós, mas eu saía de casa
toda vestida e voltava sem as roupas quentes de veludo, por conta
do calor. Passamos por momentos difíceis quando a minha mãe se
separou e fomos morar na favela de Acari, moravamos na mesma
rua que alguns trafcantes, então nos sentíamos protegidos, pois
na entrada da rua havia sempre dois homens armados”. Depois
de tantos anos, ela ainda sente-se segura quando visita a favela
com o marido a fm de rever amigos e vizinhos que sempre a
reconhecem.
Neste período de maior difculdades, a mãe teve que ir trabalhar
em um hotel distante e deixá-la com a tia. “Por duas vezes
acompanhei a minha mãe ao trabalho, mas tive que esperar por
ela e dormir na rua. Aos 10 anos, a criatividade para o artesanato
começou a ser desenvolvida pois fui ajudar uma senhora que
costurava e vendia tapetes feitos com materiais recicláveis na
feira, como pagamento ela me dava botões, retalhos e ensinava
técnicas de tranças, que eu usava para enfeitar o meu chinelo.
Eu era a única que fazia isso na minha família, por isso sentia-
me diferente, enquanto todos comiam com colher e na bacia, eu
queria comer com talheres”. A primeira vez que ganhou um sapato
novo foi aos 12 anos, quando a mãe conheceu um holandês que
depois tornou-se seu padrasto. “Até então eu só havia usado os
chinelos velhos dos meus primos, tínhamos que dividir tudo e
quando a tira arrebentava colocávamos pregos ou grampos para
consertar, mas eu achava tão feio. A vida foi dura, mas não sinto
que houve uma experiência de sofrimento devido à pobreza”.
Vida na Holanda
Quando mudou-se para a Holanda, aos 13 anos, percebeu que
seu nome Shirley era difícil de ser lido pelos holandeses. Foi então
que um professor de Ciências sugeriu que ela alterasse a escrita
do nome para fcar mais próxima da fonética na Holanda, foi
assim que ela tornou-se Shieglee. Nos planos de vida, o que ela
queria era ter uma profssão que fosse motivo de orgulho para
a mãe, pensava que alcançaria tal feito tornando-me aeromoça,
por isso dedicou-se a aprender várias línguas, hoje é fuente em
seis idiomas. Porém, a vida tomou um outro rumo, ela casou-se
e foi convencida pelo então esposo a descobrir qual era a sua
vocação profssional, e passou a acreditar que poderia trabalhar
com o que quisesse, optou por estudar Design de Moda. Com a
gravidez do primeiro flho teve que parar os estudos por umbreve
período, depois de retomar os projetos, ganhou experiência com
o famoso estilista holandês Frans Molenaar. “Terminei o curso e
fui trabalhar com um fotógrafo, mas estava insatisfeita por não
ter a oportunidade de usar a minha criatividade para desenhar
algo próprio. Fiquei casada por sete anos e, como meu ex-marido
era artista e veio de uma família bem criativa, fui incentivada a
acreditar no meu potencial”. O flho do primeiro casamento tem
hoje 23 anos, e com o atual esposo teve mais dois meninos, com
idade de 8 e 7 anos.
HO L A N DA
w w w . b r a s i l e i r o s n a h o l a n d a . c o m