NO BALANÇO DA MUDANÇA

Sérgio Godoy

Amsterdã é considerada uma cidade colorida. De fato, é só caminhar por suas ruas para notar que em todas as janelas das casas há um pote com flores. Cortinas abertas deixam à mostra o charme decorativo das salas e em cada esquina há um objeto d’arte. Esculturas são projetadas e instaladas em vários pontos da cidade e a arquitetura funde-se com o passado. Muitas casas ao longo dos canais são consideradas monumentos nacionais e a preservação da história mostra-se com orgulho em suas façadas.

Em toda a cidade a maioria das casas são de três a quatro andares. Muitas delas divididas em apartamentos, com longas e estreitas escadas.

Por essa razão mudar-se de endereço significa voltar à antiga tradição holandesa (com ênfase à cidade de Amsterdã) que é usar uma longa corda em torno de uma roda que é pendurada em um gancho. Esse gancho existe em todos os telhados das casas, normalmente sobre a última janela do ático. A idéia é simples e funcional; dentro de uma rede coloca-se caixas e pequenos móveis - sofá, geladeira, cadeiras e mesas são amarrados - Essa rede é fixada em uma das pontas de um outro gancho que existe na extremidade da corda.

O trabalho todo é dividido entre quatro pessoas: duas na janela da sala e duas na calçada. A comunicação entre essas duas partes é de grande importância para que se evite qualquer acidente, como por exemplo, que o sofá entre pela janela do vizinho do apartamento inferior ou siga direto sobre a cabeça daqueles que estão na calçada. Não existe uma forma melhor de tirar os móveis de dentro de uma casa do que essa, evitando assim os estreitos degraus e ganhando tempo sem cansar tanto. Para completar, sempre há um clima de festa entre os amigos que ajudam na mudança e a inter-relação com os transeuntes. Mas como para toda mudança deve haver organização, o primeiro passo a ser tomado é: colocar livros, roupas, utensílios de cozinha e todas as “tralhas” em apropriadas caixas. Caixas essas que podem ser compradas em agências profissionais de mudança ou, caixas de banana, que são excelentes para armazenar livros. Nada de usar pequenos sacos plásticos com pares de sapatos ou objetos que se espalharão ao longo da mudança. Também é muito importante que haja uma pessoa encarregada de providenciar o catering; no final de um longo dia os amigos estarão com fome e muita sede. A cerveja geladinha é essencial!

Em toda essa preparação e ansiedade, pode-se ver ao longo grupo de amigos e familiares muita distração. Obviamente a pessoa que está se mudando é a única a acumular tensão durante todo o processo; preocupa-se constantemente com o favorito espelho, com os pratos que devem estar dentro da caixa apropriada, com o lixo que fica para trás e no fim do dia, com o agradecimento especial à cada ajudante.

Há aqueles que evitam essa forma de mudança, optando por pagar companhias especializadas que chegam com todos os equipamentos e instalam um tipo de escada rolante com uma caixa de metal que transportará os móveis.

Particularmente prefiro o método antigo, eficaz e divertido que descrevi acima. Eu mesmo já mudei 4 vezes em Amsterdã, e apesar da dor muscular, lembro-me muito bem da boa confraternização dos amigos. Acidentes acontecem, mas são poucos e também depende da maestria da pessoa responsável em preparar a rede.

Há holandeses que desconhecem esse método – Amsterdã é uma cidade à parte – e se são novatos na cidade, também olham com curiosidade ao lado dos turistas, o inusitado “circo” da mudança.

E para quem possui interesse e possibilidade, o Museu Histórico de Amsterdã é repleto de pormenores sobre a peculiar vida dos habitantes de uma das mais coloridas cidades do mundo. Sem mencionar as fantásticas pinturas de Jan Steen e Pieter de Hooch que podem ser admiradas no Rijksmuseum.

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