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Sérgio Godoy é paulistano, graduado em Artes Visuais: Central Saint Martins School of Art , em Londres. Participou de várias antologias literárias no Brasil e alguns de seus poemas foram publicados em Poetry Review UK.

TOBY

Sérgio Godoy

Os holandeses são apaixonados por animais e plantas. É raro entrar em uma casa na Holanda e não ver diversos potes de plantas decorando a sala ou um gato dormindo no sofá.

Toby surgiu em nossas vidas por descontrole do destino, uma amiga iria voltar definitivamente para sua casa, em Sidney, e pediu para que nós procurássemos uma nova moradia para seu gato. De início pensamos em dizer não, mas sensibilizados com o animal, o recolhemos temporariamente. Toby ficou conosco por um ano. Tivemos que nos adaptar com sua presença e demandas. Sempre que íamos viajar havia o incômodo de pedir para algum amigo alimentá-lo duas vezes por dia. A ida ao supermercado também fazia parte das compras necessárias para o animal e sempre acabávamos esquecendo alguma coisa. Entre o prazer de tê-lo dentro de casa e a obrigação de mantê-lo até que surgisse uma nova alternativa, havia também certa irritação. Algumas vezes nos divertíamos com sua maneira peculiar de comportar-se, pois era uma gato temperamental e carente de atenção. Durante a madrugada acordavámos com Toby miando em tons agudos; penetrante som que não só incomodava a nós, mas também aos vizinhos.

Com o passar do tempo percebi que já não alimentava-se como antes e tentei em vão trocar por outras marcas de alimento, alguns com peixe, outros com carne e até mesmo vegetais, mas o bichinho não queria saber de nada. Foi quando o levei ao veterinário e me assustei: Toby já era um gato muito idoso e estava totalmente senil. Ainda assim resolvemos dar-lhe uma nova chance e comprei um massageador eletrônico: um equipamento que, ao ser ligado à tomada durante a noite, exala um odor simulatório ao toque humano, promovendo-lhe conforto. Infelizmente não adiantou nada e as noites seguintes também não tornaram menos silenciosas. Telefonei e marquei uma consulta definitiva com o veterinário, que me informara sobre o melhor método de colocá-lo dentro do “eterno sono”, uma vez que sofria bastante e a tendência era sofrer muito mais. A primeira opção era de preparar um próprio velório e Toby seria enterrado em um cemitério para animais. A segunda opção era enterrá-lo em nosso jardim, mas como moramos em um apartamento, essa opção foi imediatamente descartada. A terceira e última opção era cremá-lo.

Com a data marcada para sua despedida, comecei a sentir-me incomodado e triste. Durante toda a manhã o observei brincar no chão com bolas de papel, vagrosamente caminhar em direção à comida e nada comer. Fiquei pensando na fragilidade da vida; em três horas ele já não mais existiria. O coloquei em meu colo e fiz-lhe carinhos, deixei com que pulasse no sofá sem preocupar-me com pêlos soltos.

Ao chegar à recepção do consultório entreguei Toby para uma das enfermeiras e comecei a preencher o formulário: meu nome, endereço, nome do animal e minha assinatura. Optei para que ele fosse cremado e fiz o pagamento. Despedi-me de Toby que miava sem parar e antes de sair, a enfermeira segurou meu braço e delicadamente disse que em caso de necessidade ela poderia indicar-me a um grupo de apoio. “Grupo de apoio?” Indaguei. Aparentemente existe na Holanda grupos de pessoas que se dedicam ao apoio emocional àqueles que perdem um animal de estimação. Agradeci e saí do consultório veterinário rapidinho. Fui para casa cabisbaixo e comecei a recolher os pertences do gato. Coloquei tudo dentro de um saco e levei para fora.

O dia passou com estranhas sensações e depois de um mês ainda sentíamos sua falta. Os amigos perguntavam pelo gato e apesar de todo o vestígio de sua presença ter desaparecido da casa, uma volta ou outra ainda encontrávamos alguns pêlos escondidos em algum canto. E para eterna lembrança, fizemos um quebra-cabeça com uma das fotos de Toby e o enviamos para nossa amiga em Sidney.

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