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Sérgio Godoy é paulistano, graduado em Artes Visuais: Central Saint Martins School of Art , em Londres. Participou de várias antologias literárias no Brasil e alguns de seus poemas foram publicados em Poetry Review UK.

MEMENTO MORI

Sérgio Godoy

 

Memento Mori: Lembre-se que você é mortal. Se olharmos atentamente às pinturas renascentistas iremos notar o quanto os artistas desse período exploraram esse tema em seus trabalhos.

Elis Regina cantou com sua bonita voz a música, "Cartomante":

"Nos dias de hoje é bom que se proteja
Ofereça a face pra quem quer que seja
Nos dias de hoje esteja tranqüilo
Haja o que houver pense nos seus filhos"

E quando nossa tendência humana é acreditar na beleza diária da vida e buscar esperanças nos momentos mais escuros e contraditórios de nossa existência, esquecemos com frequência o quanto somos frágeis e que dentro dessa fragilidade podemos desvanecer desse planeta em apenas uma qüestão de segundos. A existência física de Jean Charles de Menezes foi retirada por mãos frias em um dia ordinário, de uma semana ordinária no subterrâneo de uma estação de metrô, em uma cidade que nunca lhe pertencera, em um país que não lhe concebera. Longe de palavras conhecidas onde talvez pudesse pronunciar: "Não! Por favor, não!"

Esse terrível acontecimento deixou também a mancha do preconceito; se Jean Charles fosse loiro e estivesse vestido de “Armani” , saindo da mesma casa, no mesmo horário, seguindo a mesma direção, seria ele seguido por policiais, jogado ao chão e asassinado sem perguntas? Onde fica o 100% da certeza? Onde detecta-se com habilidade os traços de um terrorista?

Inconclusivas versões foram traçadas, desculpas foram formuladas mas a verdade é que tanto os policiais quanto o governo Britânico nunca saberá que nesse dia um acúmulo de esperança, sonhos e vontades foram aniquilados de um ser-humano da mesma forma que tantas outras vidas foram terminadas por conseqüência de atos terroristas.

Nós brasileiros, vivendo ou não no Brasil, sentimos a morte de Jean Charles. Indignados, dividimos essa solidariedade. Nós brasileiros, vivendo na Europa, abrimos a boca de espanto. Sabemos que além de nossos sonhos estrangeiros, também mantemos a grande conexão com nosso Brasil, com nossos familiares, com todas as diversas razões por estarmos aqui. E, principalmente, sabemos que viver na Europa não significa esquecer aquilo que temporariamente ou não, deixamos para trás. Jean Charles de Menezes se foi, entrou na história que, com o passar do tempo, será esquecida, arquivada na memória porque infelizmente virá uma outra que cobrirá a significância do peso de sua morte.

E no Brasil, sua família chora lágrimas incompreendidas. A Grã Bretanha nada sabe. Nada sabe...

 

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