ENQUANTO HÁ QUEIXAS, HÁ LUTA
Susana Jas
Sou leitora de vários blogs e de colunas de brasileiros. Gosto de ler sobre como outros brasileiros vêem a vida fora de seu país e como essa experiência modificou suas vidas.
Quando a gente sai do próprio país (independente do motivo), onde fomos criados e aprendemos a conhecer todos os seus lados, começamos a aguçar os sentidos para poder captar o novo mundo que nos cerca e tentar, de alguma forma, também entendê-lo e assimilar a nova cultura.
Nesse momento, observamos de forma crítica, e às vezes dura, todos os detalhes da nova vida que nos cerca: como comem, o que comem, como se vestem, como se comportam, do que gostam, que preconceitos carregam, hábitos de higiene, construções, etc... Tudo passa a ser alvo de minuciosa observação crítica; tudo observado com lentes de aumento.
Eu vejo isso como um bom sinal. É como se jogássemos na água alguém que não soubesse nadar... nunca vi que a pessoa aceitasse passivamente se afogar. Pelo contrário, luta até esgotar a última das suas forças.
Claro que a comparação ficou exagerada, porque estar neste “mar” (outro país), não vai matar ninguém. Mas vale pela comparação da luta pela vida.
Esse “mundo” estranho exige de nós, adultos já cimentados em muitas coisas, uma luta para o moldar-se. Nessa luta, entram as “queixas”. Essas queixas, são nosso interior lutando para FILTRAR essas diferenças que, no princípio parecem absurdas, e depois, reter o que é bom e importante.
Todos sabem que, com o passar do tempo, tudo começa a criar um aspecto familiar com a convivência, e essas coisas todas que nos pareciam um montro ante-diluviano (é ante mesmo, porque quer dizer: antes), passam a se incorporar no nosso viver, quase sem nos apercebermos. É mais comum ver principiantes na vida exterior com queixas, do que os que já estão aqui há anos. (Se bem que o silenciar não significa que deixemos de ser bons observadores).
Com tudo isso, quero dizer que admiro quem observa, critica (sem negativismo barato), esclarece. Sim, porque quem faz isso, faz o que muitos filósofos, sociólogos e estudiosos fazem : OBSERVA O MEIO EM QUE VIVE E TOMA CONSCIÊNCIA DE TUDO O QUE O CERCA.
Acho mais estranho quem não percebe as diferenças do que quem percebe e se debate até a aceitação.
Por tudo isso, acho tão pobres os comentários que algumas pessoas insistem em deixar quando algum brasileiro escreve sobre esses tópicos em blogs , colunas ou sites: “se não está contente, volte para seu país”.
Não é questão de não estar contente. É questão de PERCEBER as diferenças e LUTAR para fazer um espaço para elas, num corpo e mente com já quase tudo solidificado. E as queixas fazem parte dessa luta ( a menos que sejam só para reclamar sem fundamento). Parece-me que quem não entende isso, não entendeu o óbvio.
Seria a mesma coisa que dizer aos brasileiros que se queixam do governo Lula ou coisa que o valha: “NÃO ESTÃO CONTENTES ? VÃO EMBORA DO PAÍS !”
Isso soa a argumento barato de gente alienada.
Desistir sem lutar ???
É coisa de gente fraca .
E, que vivam as queixas, enquanto nos ajudam a assimilar novos mundos!!!!
