Escolhas
Adriane Murta Meekel
Quando o casal - ele holandês, ela brasileira - decide ter filhos aqui na Holanda, inicia-se uma fase nova do relacionamento, repleta de minúcias. A diferença cultural aparecerá já num primeiro momento. Ter ou não filhos em casa? ser acompanhada durante a gestação por uma enfermeira/parteira? ir ao ginecologista somente ser for necessário(uma ou duas vezes no máximo) para fazer a ultra-sonografia? saber ou não, o sexo do bebê depois da 25a. semana? ter filho de parto normal, e sem anestesia ?
Ao optar-se pela maternidade aqui na Holanda, a mulher brasileira deve estar ciente dessas diferenças. Se o casal, principalmente a mulher, não tiver estrutura para seguir o sistema holandês, será mais sensato, mesmo que o acompanhamento da gravidez seja em grande parte feito na Holanda, que o parto seja no Brasil. Claro, é preciso dinheiro antes de fazer essa opção, sobretudo se a mulher quiser já, de antemão. a cesariana. No Brasil podemos escolher a cesariana sem muito embaraço, mas aqui na Holanda, "querer" a cirurgia, assim, pura e simplesmente, é impossível.
O sistema de saúde na Holanda é voltado para o social. Todos têm um seguro de saúde, cujo padrão é semelhante: visitas aos médicos da casa (antigos médicos da família, no Brasil), e em seguida, se for indicado pelo mesmo, uma consulta ao especialista. Nem sempre serão pediatras que cuidarão do seu filho; em muitos casos, essa função é assumida pelo próprio médico da casa. Se o assunto for além da questão da clínica
geral, o médico encaminhará o paciente para o especialista.
Ajuda
Durante os nove meses, a mulher será orientada por uma profissional capacitada para ajudá-la, inclusive sob o aspecto psicológico. Haverá a possibilidade, lá pela 30a. semana, de participar de cursos especiais de ginástica - uma oportunidade de conhecer outras grávidas, praticar o holandês, e falar dos assuntos mais interessantes do momento: o bebê e a barriga. Numa das aulas do curso para gestantes, o pai da criança aprenderá a massagear a futura mãe de seu filho.
Com os bebês nascidos, a mesma de turma de grávidas volta a ser encontrar para um curso de ginástica pós-parto. Nesta fase as novas mamães, lindas e radiantes, apresentam seus filhinhos umas às outras. A fisioterapeuta, ou professora que dirigiu o curso anterior, quase sempre oferece sua casa para o encontro tão esperado. Ou então, uma das mães propõe o encontro na sua própria casa. No total, são umas 10 mulheres. Imaginem que doçura, ver dez ou mais bebezinhos reunidos num mesmo sofá! Dá-lhe câmeras digitais ou filmadoras. É uma cena linda, muita linda!
A partir daí estarão abertas as portas para novas amizades. Eu conheço mães que tomam chá da tarde juntas há 16 anos, desde o nascimento do seu primeiro rebento.
A mulher brasileira se deparará com certos procedimentos da cultura holandesa que podem chocar com a nossa cultura. O jeito de dar banho num bebê recém-nascido, por exemplo: há quem use a pia da cozinha para dar o banho. Mas existem pontos favoráveis: a mãe receberá a visita em casa de uma enfermeira capacitada a cuidar do bebê, cuidar da mãe, receber as visitas com café, chãs e biscoitos enfeitados (rosa ou azul) tradicionalmente servidos por ocasião do nascimento de uma criança. Essa mesma enfermeira colaborará com a limpeza da casa. Tudo isso por uns 5 a 8 dias.
De modo geral, os pais holandeses são super colaboram bastante. Eles tomam a frente na ordem da casa. Fazem tudo para o conforto da mãe e do neném . Trocam fraldas, dão banho, são muito participativos. Afinal, aqui não se dispõe de empregadas com tanta facilidade. Acredito que toda essa dificuldade em ter terceiros para dar uma mão, acaba fortalecendo os laços do casal e facilita a ajuda mútua, assim como contribui também para que cada dia os pais conheçam seu filho um pouquinho mais.
É certo que, quando há sintonia entre as duas culturas, holandeses e brasileiras passam uma experiência única e incrível. Um esforço maior, por parte dela, influi muito no sucesso da empreitada. Afinal, ela terá que abrir mão de muita coisa... para começar da presença da mãe ou parentes para acompanhá-la durante os nove meses de jornada. E em seguida, adaptar-se a uma realidade direta e crua como a holandesa. Esse é um processo gradativo de amadurecimento, que vai acontecendo aos poucos.
Com o passar dos anos, aprendemos a lidar com as diferenças da cultura holandesa. Abra a mão de muitas coisas, mas não diga amém para o que não te convém. Satisfaça seus desejos maternais, fale com seu filho em sua própria língua, o que é essencial e maravilhoso.
Diga sim aos pontos favoráveis da maneira de ser e fazer dos holandeses, mas jamais permita que abusem do seu livre arbítrio e liberdade de escolha.
Holandeses adoram ser "donos da verdade"; adoram dizer que "você deve fazer isso, você deve fazer aquilo..." . Ouça o que eles têm a dizer, às vezes, finja que concorda, mas, em outros instantes, opine, deixe sua mensagem. O que não pode deixar de existir, é a comunicação. Se não der para ser em holandês, dane-se: converse com o seu parceiro em inglês, ou em português mesmo.
A maternidade e a paternidade são escolhas importantes que devem ser acertadas como o passo mais ousado e consciente entre duas pessoas. Que a união das duas culturas seja motivo de alegria, cumplicidade do casal, e geradora de bons frutos.
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