Elisângela Kanacilo é formada em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Uberlândia, MG, atualmente estudando na TU em Delft onde defenderá sua tese de doutorado. Nesta coluna ela registra, de maneira divertida, um pouco de suas experiências e como ela tem lidado com choque cultural pelo qual tem passado.


As multas continuam!

Elisângela Kanacilo


Como alguns de vocês sabem, eu cansei de levar multas de bicicleta e resolvi inovar. Comecei a explorar outros setores, como o das multas de tram e de limpeza pública (é aqui existe isso). Bem que eu tento me livrar das multas, mas não sei o que acontece: elas me perseguem! Acho que no dia em que eu nasci a posição dos astros propiciavam para uma vida muito rica. Em multas!
Mas mesmo as multas gostando muito de mim, elas estão perdendo as forças. Dessa vez foram somente advertências. Menos mal, mas não deixa de ser uma situação desagradável.

Episódio 1 - no fim de semana eu e uns amigos resolvemos ir a uma festa e fomos de tram. Tinha um amigo brasileiro que está morando há pouco tempo aqui e eu fui explicar para ele como funcionava o "strippenkaart".

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Strippenkaart é o cartão que usamos para pagar ônibus e tram aqui na Holanda. Ele consiste de várias listras (strippen). As cidades servidas por esses transportes públicos estão divididas em zonas e a passagem custa o número de zonas que você vai cruzar (a partir da sua origem até o destino) + 1. Não tem cobrador, você é tem que carimbar o cartão. De vez em quando entram fiscais para verificar quem pagou a passagem.
Fecha parênteses

Para o nosso destino precisávamos carimbar 5 listras e o meu amigo estava achando muito e perguntou se no fim de semana ia ter fiscal para checar. Eu falei que podia ser que sim e que era melhor pagar as 5 listras do que a multa. Todos carimbamos e entramos no tram. Quando estávamos a 1 ponto da gente descer, entram 5 fiscais pedindo as passagens. Quando eu peguei o meu cartão é que fui ver que tinha carimbado só 4 listras por engano. Entreguei o cartão já esperando a grosseria começar. O cara falou tudo que eu já sabia: que eu precisava carimbar 5 listras e que eu era responsável pelo meu cartão e que a multa era de 35 euros (bem essa parte eu não sabia) . Daí, conversa vai e conversa vem e consegui convencê-lo de que tinha contado errado e que não tinha sido de propósito. Meus amigos me ajudaram dizendo que eu era nova na cidade (o que nao costuma ser uma desculpa aceitável por eles) e sei lá, o cara estava em um dia de bom humor e deixou passar.

Com isso eu chamei a atenção de todos os passageiros dentro do tram e ainda tive que escutar o cara a me ensinar como se carimba o cartão e ainda fazer cara de que tudo era novidade.
Dank u meneer! Ops, quer dizer, Thank you. Sou nova na cidade e não falo holandês :)

Episódio 2 - Aqui na Holanda tem coleta seletiva de lixo. O negócio é bem organizado e eles são muito rigorosos quanto a isso. Quando você muda para uma casa, você pede na prefeitura os latões de lixo. Eles têm cores diferentes dependendo do tipo de lixo que você vai colocar. Preto para lixo orgânico, verde para lixo de jardim e um outro que não me lembro agora. Vidros tem que ser levados a postos de coletas espalhados nos bairros, pilhas sem cargas devem ser levadas em lojas de eletrônicos e garrafas pet de plástico são levadas de volta para o supermercado para reciclagem (você pega os 25 centavos que você pagou a mais de volta). Ah e tem papel que não tem recipiente específico mas basta colocar na calçada que o caminhão leva. E para cada tipo de lixo tem um dia certo para a coleta.

O que aconteceu comigo foi colocar lixo verde em um dia em que era coleta apenas do lixo orgânico. Sem saber, é claro. Quando cheguei a noite em casa, meu vizinho perguntou se o latão verde era meu, pois o lixeiro ficou bravo porque eu estava infrigindo as regras e que eu podia levar uma multa por causa disso. Mas como eles não sabiam de quem era, me livrei de mais uma multa. Ia ficar legal eu pagar multa até por causa de lixo, né?


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