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Postado em 07/12/2017

Duas ou mais línguas? Seu filho consegue!

Colunista Diversas
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Duas ou mais línguas? Seu filho consegue!

Artigo de grande importância aos pais e educadores sobre o multilinguismo, publicado no jornal holandês (nrc.nl).

Traduzido pela EscolaLíngua-Mãe , para o português:

Fonte: https://www.nrc.nl/nieuws/2017/11/16/twee-of-meer-talen-leren-je-kind-kan-het-14051486-a1581361

Jornalista RinskjeKoelewijn do NRC.nl de 16 de denovember 2017

Duas ou mais línguas? Seu filho consegue!

Suas filhas têm um pai, uma mãe e uma escola de línguas. Com o melhor italiano da Holanda, Marinella Orioni promove o multilinguismo.

Marinella Orioni nos mostrou qual é o melhor restaurante italiano da Holanda. Chama-se Mário e fica na cidade de Neck. Combinamos de nos encontrar lá. Ao longo de um dique, ela estaciona o seu carro com placa da França. Sai do carro com sapatos de salto, calça de veludo, casaco de pele sintético e blusa de seda amarela: uma parisiense. Entrando no restaurante, ela cumprimenta o funcionário em italiano. “O que vamos tomar? Prosecco? Claro! Três, quatro ou sete pratos? Vamos ficar com quatro.”

Ela é filha de uma mãe holandesa e um pai italiano. É casada com um italiano e moram há 20 anos em Paris. Eles têm duas filhas as quais são educadas com três línguas. As meninas falam francês na escola, italiano com o pai e holandês com a mãe. Marinella estudou holandês em Paris e deu aula de holandês para crianças e adultos no Instituto Holandês. “Eu percebi como os pais têm dúvidas de como educar as crianças com mais de uma língua. Não é melhor falar francês em casa? As crianças não se confundem com tanta língua ao mesmo tempo? Elas não vão falar as duas línguas com defeito? Não vão ter atraso na escola por isso? Os pais estão fazendo bem aos filhos ensinando duas línguas?”.

Eu sei o que significa deixar de aprender uma língua!

Ela responde com muita segurança: multilinguismo é o melhor presente que você pode dar ao seu filho. Com base em pesquisa científica, com sua própria experiência e pesquisa de campo, ela está escrevendo dois livros: um sobre educação multilíngue e um sobre a própria criança multilíngue.

Somente na Europa são faladas 107 línguas em 51 países. Multilinguismo não é exceção, mas é a regra. Ela acha muito estranho que há tão pouco conhecimento sobre isso. Um escândalo, diz ela, que os pais são desencorajados a falar a sua própria língua com os filhos, mas sim a língua em que se fala na escola ou no país em que se vive. Ela não exagera quando diz que a sua missão é incentivar/promover o multilinguismo.

A língua-mãe de Marinellavirou a língua também a do pai dela (no caso o holandês e não o italiano).

O pai de Marinella chegou da Itália com 18 anos para trabalhar na Holanda. Na Sardenha ele terminou a escola agrária e veio trabalhar com flores na Holanda. Ele conheceu uma moça holandesa, casou-se com ela, e se tronou pai de três filhos. “Ele não falava italiano conosco”. Nos anos da sua juventude, nos anos 70, os não nativos eram aconselhados a falar somente holandês com as crianças, inclusive em casa. Além disso, o pai falava o dialeto da Sardenha; ele não se imaginava ensinando esse dialeto aos filhos. “Assim, a nossa língua-mãe (frísio) virou a língua-mãe dele”. Ele fala holandês como ele aprendeu naquela época; com um sotaque do oeste da Frísia.

Marinella está sempre à procura do italiano em si mesma, conta.”Todo verão íamos para a Sardenha, mas eu não entendia a minha avó, e para as minhas primas eu gaguejava apenas algumas palavras. Eu me sentia uma turista no meu próprio país. Na Holanda eu me sentia uma italiana; era assim que eu me enxergava, mas na verdade eu não era isso”. Uma vez por semana, em Alkmaar, ela tinha aula com uma professora italiana. Existia isso naquela época; os filhos dos funcionários contratados tinham aula da língua do pai e da mãe. Grátis. Aparentemente o governo holandês achava esta questão importante. Essas aulas foram abolidas. Ela aprendia por conta própria músicas italianas. “Toda noite eu aprendia um verbo. Quando eu sabia todas as conjugações, eu me permitia ir para a cama”.

Crianças que falam mais de uma língua desenvolvem não somente um, mas dois ou mais sistemas linguísticos no seu cérebro.

A língua é a porta de entrada para uma cultura, diz ela. “Eu sei o que é ter perdido uma língua.” Ela casou-se com um italiano não por coincidência – com um italiano que ela conheceu quando estudou em Florença. “É sagrado para nós educarmos as nossas crianças com as nossas próprias línguas-mães”. As crianças tem agora 13 e 9 anos; elas estudam numa escola francesa. Três línguas não são demais? Esta é uma pergunta típica de alguém que só fala uma língua.A maioria de nós aprende uma língua na fase já adulta. Inglês, francês, alemão na escola. Isso é muito custoso. Por isso imaginamos que para uma criança também é confuso aprender duas línguas ao mesmo tempo. E isso é o maior erro! Na infância, acostumar-se com mais línguas simultaneamente é totalmente diferente do que aprender uma língua na idade adulta. Crianças multilíngues não desenvolvem somente um, mas vários sistemas linguísticos nos seus cérebros; os quais funcionam separadamente. Elas não conhecem o fato de só falar uma língua.”

Marinella é fluente em três línguas, apesar ela mesma se denominarmonolinguista. “Até meus 20 anos meu idioma dominante era o holandês”. Mesmo depois de morar 20 anos na França ela fala holandês perfeitamente. Talvez certinho demais. Em vez de dizer “que bobagem”, ela diz: “que situação estranha”. Ela às vezes começa uma frase com um ouioui ou um si si. Ela diz que o tem sotaque, com certeza, quando italiano ou francês.

“Somente criança pequenas tem o poder de imitar facilmente os fonemas. Os bebês choram com a entonação da língua da mãe. Crianças pequenas balbuciam com a língua que mais ouvem.” Já depois de um ano, a criança  perde um pouco  da capacidade de imitar. Marinella aconselha os pais a falarem com os seus filhos desde o dia do nascimento! “Normalmente isso acontece naturalmente. A língua também é emoção.”

Naturalmente não significa que seja sempre fácil. A filha de Marinella responde à mãe há muito tempo, invariavelmente, em francês. “É também, bem fácil para mim, mudar para o francês. Mas se eu quero que ela não somente entenda, mas que também fale holandês, então devo desafiá-la a falar. Se ela fala comigo em francês, então pergunto: como? (em holandês)” . O pai dela fica pouco tempo em casa por causa do trabalho, enquanto isso mãe e filhas assistem a dvdsitalianos para a sua manutenção.

“Crianças são esponjas.Mas você tem que afundar a esponja na água.”

Suas filhas tem uma língua paterna, uma língua materna e uma língua da escola. O que vocês conversam nas refeições? “Italiano”. E se os amigos franceses vem jantar? “Francês”. E em que língua fala quando está com elas na loja, no metrô, ou no médico? “Holandês”. Você não tem medo que suas filhas conheçam três línguas, mas não falem nenhuma direito? Ela nega seguramente com um não. “ Crianças multilíngues compartilham a língua com a qual elas conversam. Elas desenvolvem áreas de língua/idioma.Comigo elas conversam sobre coisas diferentes do que com as amigas, então ouvem outro tipo de vocabulário.”

Sua filha mais velha precisou de um ‘rappoteur’ para a escola. “Eu não sabia o que significava essa palavra. A minha filha sabia, mas não em holandês.“ Parecia ser um esquadro.“Com o vovô elas não falam italiano, pois não acham natural. O vovô mora na Holanda, então ele fala holandês. E eu mesma acho estranho falar com ele em italiano.”

A filha mais velha fala fluente as três línguas, mas é ruim em ortografia; nas três línguas. A filha mais nova não é muito falante, em nenhuma das três línguas. “Quantas vezes eu já tive que ouvir que para ambas as filhas a causa do problema é serem multilíngues? Marinella acaba com qualquer pré-julgamento. Crianças multilíngues começam a falar mais tarde? Não mesmo. Algumas crianças são simplesmente assim, mais tardias, mesmo falando uma só língua.Elas tem um vocabulário limitado? Então conte as palavras que elas falam em todas as línguas e vai ver que o seu vocabulário é maior. Crianças multilíngues tem atraso de língua e aprendizado? Não mesmo. Isso acontece porque essascrianças com atrasovivem num contexto pobre em comunicação (pouco contato com língua, independente de qual seja), poucas pessoas com quem conversar e pouco hábito de leitura.

Língua materna

A pior coisa que você pode fazer é desencorajar os pais a falarem a língua materna com seus filhos. E, no entanto, isso é exatamente o que acontece com frequência. “A língua materna é a base. Somente em sua própria língua, os pais podem transferir conhecimento, conceitos abstratos e emoções. Se você substituir a língua materna por um holandês pobre, a aquisição da linguagem só irá parar”. Ela acha, assim como seu pai, que você tem que vivenciaro país onde você mora. “Mas meus filhos são menos franceses porque falo holandês com eles?”Ela ri disso. “Com francês e italiano, as pessoas até que entendem”. Os franceses, no caso de Marinella. “Até que é útil! Mas o holandês? Quem fala essa língua? “. O multilinguismo, diz ela, as pessoas só acham fantástico desde que sejam” linguagens úteis “. Linguagens com status alto, econômico ou político. Inglês, Alemão, Chinês. Mas turco ou polonês? Isso se torna problemático. Berber, dialeto da Sardenha, frísio? Qual o motivo em aprender? “Todo idioma é útil porque é necessário para comunicação e transferência de conhecimento”.

Pergunta que foi feita à Mariella: se ela como frísia, fosse morar num país estrangeiro, teria ensinado suas filhas o frísio? Ela pensa profundamente. “Se o frísio fosse minha língua de expressão?” Ela pensa novamente e diz: “Provavelmente sim, mas não sei”.

Depois do último prato ela diz: “Minhas filhas me perguntam:” Qual idioma falaremos com nossos filhos mais tarde? “E o que Marinella diz? “Que eles descubram automaticamente o idioma de seus sentimentos.” A linguagem, ela diz, faz parte de sua identidade. “As pessoas multilíngues têm uma identidade mista. E essa identidade também significa: não precisaescolher.”

Criando filhos bilíngues