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O caso de Lidiane Raposo (36) é um pouco diferente, o flho, Edgar
Félix (6), nasceu em Portugal e veio para a Holanda com 1 ano
e meio. Em casa, o português era a única língua usada, por isso,
quando tinha pouco mais de dois anos, o pediatra recomendou
que ele fosse para a creche a fm de desenvolver o idioma
holandês interagindo com outras crianças. Lidiane teve receio
dele só falar holandês, “é importante falar o português para ele
se sentir conectado com a minha família e com o Brasil”. Por isso,
ela redobrou a atenção com a língua materna, uma boa estratégia
foi colocar programas e desenhos brasileiros para ele assistir pela
Internet. “Assistir umdesenho emoutra língua é uma maneira fácil
e rápida de aprender. Eu gosto muito do Inglês, quando grávida,
eu deixava a TV ligada no canal CNN. Sempre o levei às compras
comigo, e ele me ouvia usar o inglês, então ele se acostumou
e gostava de assistir desenhos em inglês. Ao chegar na escola,
mesmo sem falar o holandês, a professora podia comunicar-se
com ele em inglês”, explica.
A mãe garante que Edgar é apaixonado por idiomas, quando
Lidiane lê contos em holandês e erra, ele a corrige. Durante as
férias, a família passou três dias na Itália, o sufciente para que
o flho, só de ouvir, aprendesse expressões como ‘buongiorno’,
‘grazie’ e ‘per favore’. Apenas por ouvir sempre atentamente uma
colega de classe falar espanhol com a mãe, Edgar já aprendeu
algumas frases. “O meu flho fala pelos cotovelos, e se eu uso
algum vocabulário mais complexo, ele me surpreende ao usá-los
com a mesma seriedade. Quando ele diz pelo telefone ‘Vovó, te
amo e tenho saudade’, sinto-me realizada por ver existe um laço
unindo-o com aqueles que estão longe. Acho triste quando os
avôs brasileiros só podem comunicar-se com os netos por gestos”.
Cartilha e Youtube: ferramentas de alfabetização
“Crianças tem um poder de absorção maior do que imaginamos,
elas são esponjas”, conclui Thaís Mengerink (35), mãe de Laura (6)
e Joshua (4). A brasileira deu uma pausa na carreira para focar no
que chama de “determinação em separar um tempo e criar um
ambiente propício a fm de ensinar português aos flhos”. Para
facilitar a tarefa, Thaís colocava o notebook em cima da mesa,
enquantodavapapinhas,mostravavídeosdealfabetização infantil
do Youtube, e as crianças se divertiam repetindo as palavras.
Primordial também é trazer livros do Brasil e ter DVD’s do mesmo
flme nos dois idiomas. Contudo, assim que o pai, Gideon, chega
em casa, todos passam a usar só o holandês. Apenas quando a
família do Brasil passa férias na casa dos Mengerink é que todos
falamportuguês, até mesmo Gideon, que aprendeu o idioma com
a esposa. É com orgulho que Thaís declara “a família toda fala as
duas línguas de forma fuente”.
Mas nem foram só fores, há períodos em que a criança fca
preguiçosa e opta por apenas um idioma. “Eles sempre optam
pelo idioma mais usual, que é o holandês, e começam a fcar
com preguiça de fazer a troca. Quando essa fase chega, o certo
é responder em português, sem nenhuma pressão, e pedir com
naturalidade para que a criança repita a pergunta usando o
segundo idioma”, ensina. Aos dois anos, Laura teve uma rápida
fase em que não sabia com quem falar português ou holandês,
logo depois de alguns meses, tudo fcou mais automático. Com
pouco mais de 3 anos, Thaís ensinou-lhe o abecedário cantando
a música do alfabeto, mas sem que ninguém percebesse, Joshua
também havia memorizado a canção toda de tanto escutá-la.
Assim que passou a frequentar a escola, aos 4 anos, Laura optou
por falar com o irmão em holandês, mas se estão no Brasil, eles
se comunicam em português. A mãe admite “a língua deles é o
holandês, mas o português é fuente”.
Thaís decidiu por esperar alguns meses para ter certeza que
Laura estava indo bem na leitura do holandês, e só depois passou
a dar livros em português. Ao ler pela primeira vez, o som saiu
carregado de sotaque, mas logo a flha reconhecia as palavras e
relia sem a entoação que aprendera na escola holandesa. Fora
isso, as crianças também assistem desenhos em italiano usando o
Youtube, e aprendem algumas palavras em inglês. Thaís pretende
embreveusar a cartilhaescolar que trouxedoBrasil paraensiná-los
a escrever, e conta que nunca duvidou que seus flhos pudessem
falar português, pois ela mesmo havia vencido o desafo de
aprender o holandês quando ainda adolescente. Em 1992, sua
família hospedou por alguns meses uma estudante holandesa
que fazia intercâmbio no Brasil, que deixou Thaís encantada com
a cultura e o idioma. Um ano depois, ela decidiu morar por alguns
meses na Holanda e a paixão só aumentou.