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Adriana Mattos é carioca e faz doutorado na área de ciências médicas e farmacêuticas na RUG, em Groningen, onde mora há 5 anos. Casada com holandês e mãe de 3 filhos, passou a se interessar por estudos de bilinguismo para poder entender e acompanhar o desenvolvimento da linguagem de seus dois filhos menores, nascidos na Holanda. Os meninos, atualmente com 4 e 2 anos, são criados com 3 idiomas simultaneamente (português, holandês e inglês) e estão se tornado trilíngues sem grande dificuldade, para o deleite da mamãe e do papai.

Criando filhos bilíngues

Adriana Mattos

 

Estou lendo Raising a Bilingual Child, de Barbara Zurer Pearson, e achando interessantíssimo. Dr. Pearlson é pesquisadora associada da Universidade de Massachusetts e tem mais de 20 anos de experiência na área de bilinguismo e linguística. Pessoa mais do que capacitada pra escrever sobre biliguismo, certo? Ainda estou na metade do livro, mas já percebi coisas interessantíssimas nele.

Bilíngue (ou multilíngue) é a pessoa que domina mais de um idioma, em oposição aos monolíngues, que dominam apenas um. A maioria das pessoas do mundo pode se comunicar em mais de um idioma e em inúmeros casos, o bilinguismo é adquirido desde o nascimento ou na tenra infância. Quando a criança cresce em ambiente bilíngue e desenvolve o bilinguismo, isso reflete, entre outras coisas, em aumento de Q.I., de habilidades linguísticas, matemáticas, maior tolerância cultural e até em diminuição da chance de ter mal de Alzheimer. Dentre os grupos estudados, os melhores resultados em todos os parâmetros citados acontece quando a segunda (ou terceira, ou quarta) língua é introduzida desde o nascimento ou bem cedo na infância.

O bilinguismo pode ser "classificado" em 2 principais grupos, de acordo com o grau de proficiência atingido e as localizações cerebrais que os idiomas ocupam.

1. Aquisição de primeira linguagem bilíngue (BFLA) = introdução simultânea de dois ou mais idiomas ao nascimento. A criança desenvolve os dois idiomas paralelamente e independentemente a partir do nascimento. Considera-se a pessoa como tendo "duas línguas maternas" ou "dois primeiros idiomas". Com estímulo adequado, a criança atinge nível de falante nativo ou similar a nativo. Fazendo analogia com árvores (idiomas) em uma floresta (cérebro), corresponderia a duas árvores crescendo muito próximas numa mesma área, porém independentes e com raízes próprias. Normalmente acontece quando os pais têm nacionalidade diferentes e usam seus próprios idiomas com a criança.

2. Aquisição de segunda linguagem (SLA) = Quando o aprendizado do segundo idioma não acontece desde o nascimento. Pode ser adquirida na infância ou depois da puberbade. No primeiro caso (ESLA), o segundo idioma se desenvolve a partir das bases da língua materna, mas está intimamente relacionado a ela e à proficiência atingida e, quando devidamente estimulada, também atinge nível nativo ou similar a nativo. Na analogia das árvores, corresponderia a uma ávore com raiz (o idioma plantado desde o nascimento) e uma outra árvore sobre esta, como se fosse um ficus, cujas partes se enroscam na árvore original e suas raízes se confundem. Ainda funcionam como línguas completamente independentes e não há muita diferença entre esse grupo e os BFLA. A idade onde isso ainda pode ser estabelecido é controversa. Alguns dizem até os 7-8 anos, outros até o início da adolescência. Eu, particularmente e baseada em outros estudos desse mesmo livro e fora dele, acredito que esse grupo chegue a nível "similar a nativo" mais vezes que a "nativo" propriamente dito. Normalmente acontece quando a criança imigra muito nova para outro país ou quando frequenta escola em outro idioma que não seja o local.

Já a aquisição tardia de segundo idioma (LSLA) não premia os falantes com tanta fluência e o nível atingido não será nativo e, muito raramente, poderá ser similar a nativo. A árvore cresceria sobre a árvore inicial, sem desenvolver raízes próprias e sem grandes intimidades entre suas partes. Essa pessoa, por mais treinada que seja, sempre terá sotaque, erros de gramática e não entenderá completamente o uso do idioma (será incapaz de entender certas ironias sutis, por exemplo).

Claro que, mesmo que os dois ou mais idiomas sejam apresentados à criança, existem casos "bem sucedidos" de bilinguismo e casos nem tão bem sucedidos assim. Existem crianças que maestram mais de um idioma completamente, crianças que entendem um idioma mas respondem em outro, crianças que não conseguem entender ou pronunciar mais que algumas palavras e crianças que, mesmo vivendo em ambiente bilíngue, são monolíngues.

O que determina isso? existe uma forma de otimizar o ambiente e pular de uma situação para outra? existe uma "fórmula de sucesso"? existem crianças mais aptas ou menos aptas a aprenderem um outro idioma ou é o ambiente que influencia isso?

Espero responder a isso, de acordo com o livro e minhas experiências no dia-a-dia como mãe, nas próximas colunas pois agora preciso dar um "input" maior de português para os meus pequenos bilíngues (BFLA, estão no primeiro grupo... sorte deles!).

OBS.: "similar a nativo" só pode ser percebido como diferente de "nativo" por pessoas capacitadas em um laboratório de linguística. Logo, na vida prática, não há diferença perceptível.

 

- 28/09/2009

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